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17 de jul. de 2010

Todos somos iguais diante do piano.

O piano se torna um instrumento musical sui generis porque não exige excelência de dotes musicais para o seu aprendizado. Assim, qualquer criatura humana se capacita a progredir anos a fio nas teclas brancas e pretas, independentemente de pré-requisitos musicais exigidos pelos outros instrumentos: ouvido e destreza pelo violino, entonação e embocadura pela a flauta, extrema habilidade pelo fagote, etc.


A “facilidade” decorrida da não exigência de produzir a entonação correta da nota, torna o piano um instrumento chaveador e percussivo, tanto que o grande Mestre Johann Sebastian Bach dizia que para tocá-lo era preciso apenas apertar as notas certas nos momentos determinados. E na presença de tamanha facilitação, milhões de pessoas aprendem piano e teclado, ensejando até que alguns amadores talentosos cheguem a arranhar os grandes clássicos do repertório pianístico.

Pois bem, na minha qualidade de estudante de piano, participo dos eventos semestrais organizado pela professora que consiste num sarau musical, onde os estudantes apresentam seus progressos e revelam tartamudeios. Nestas ocasiões realizo a ideia de que a música é a única atividade humana que suplanta todas as diferenças de idade, dotes físicos e intelectuais, sociais, culturais, religiosas e raciais.

Perante o piano você é apenas um sujeito carregando a sua partiturazinha, esperando paciente e nervosamente a sua vez de descarregar em público a sua musiquinha e a sua grandessíssima vergonha. Depois de apresentado o número, ao voltar aliviado para a cadeira, você contempla seus coleguinhas e colegões do alto de uma apreciação aliviada e enternecida pelos esforços alheios envidados para vencer aquele deserto uniformemente disposto em teclas brancas e pretas.

Ora sou criança tocando com um dedinho de cada vez, ora sou adolescente enrubescido e titubeante, ora sou adulto orgulhosamente retraído, ora tenho síndrome de Down, ora sou velho temporariamente desgarrado sob as asas da música. Tudo isso me passa pela cabeça num átimo durante o recital havido num ambiente ao mesmo tempo descontraído e formal.

2 comentários:

  1. Falamos de crianças, arte e cultura.

    Sem música, a vida seria um erro, escreveu Nietzsche. Eu acrescento que a educação sem música é um erro ainda maior. Lembrei-me disto quando vi um vídeo de um coro de uma escola pública norte-americana a cantar "Zebra", dos Beach House.
    O surpreendente não era nem o entusiasmo com que cantavam, nem as capacidades harmónicas. Nisso aquele coro não se distinguia dos de muitas escolas.
    O que surpreendia era que, em lugar das músicas infantilizadas, aqueles miúdos cantavam uma música adulta, apropriando-se dela com um olhar de criança.
    Vi nisso a diferença que existe entre a educação musical que hoje é dominante nas escolas.
    Há um tempo para tudo, mas eu temo uma educação musical infantilizada. Ou seja, há momentos em que sou favorável à liberdade de escolha na educação, tema que se tornou muito popular. Mas depois de ver aquele vídeo inclino-me decisivamente para a "política do gosto" e para a certeza de que a liberdade se garante na escola pública, com professores que mudam o mundo, dando a crianças de um contexto desfavorecido uma educação musical adulta, como em Staten Island, em New Jersey.

    http://www.youtube.com/watch?v=0u_TGAmzs04&feature=player_embedded

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  2. Muito bom ;]

    Veja mais no site: http://www.comocriarsitegratis.com/

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