Um desabamento de terra ocorrido na cidade de Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul, na madrugada do dia 16/11/2009, aproximadamente às 5h30min, é mais uma peça do mosaico da ocupação urbana caótica neste país.
Uma feliz coincidência fez com que eu fizesse fotos no dia 17/02/2009, movido pelo interesse estético despertado pelo paredão argiloso esfarelento.
Em consequência das pesadas chuvas que caem em Bento Gonçalves nesta primavera chuvosa sob a influência do fenômeno meteorológico El Niño, o paredão podre que tinha tudo para desabar, de fato desabou:
Dos 26 veículos armazenados na revenda C&C Veículos, 9 deles foram catapultados para a rua como tiros de canhão. De quem é a culpa?
Apesar da antipatia causada pelos ecochatos, se o poder público aplicasse critérios mais ecológicos para o regramento da expansão urbana, não teríamos vidas ameaçadas por causa da leniência dos gestores públicos.
Fachada original.
Fachada destruída.
Alegres bandeirinhas ao vento.
Uno 96, um dos carros que permanecem soterrados.
A principal medida tomada pela Prefeitura de Bento Gonçalves foi tirar o corpo fora, alegando que tal construção realizada sem contenção é de responsabilidade da iniciativa privada, apesar de ter dado a chancela oficial tanto este, como outros edifícios construídos na mesma rua sob a barreira escavada.
Download do marcador de localização do prédio desabado no Google Earth.
Notícia do desabamento:
Deslizamento de terra danifica veículos e prédio de revenda em Bento Gonçalves [Jornal Pioneiro].
Fail: Não obstante a revendedora de carros ter mudado o endereço, conforme noticiado no jornal [Gazeta],
a foto do prédio desabado continua na página oficial da [C&C Veículos].
Se existir uma tragédia como a que aconteceu na Madeira, veem as carpideiras do costume e depois logo se vê.
ResponderExcluirDissecando desgraças
ResponderExcluirDe cada vez que há uma guerra ou catástrofe, reagimos com choque às primeiras imagens transmitidas nos noticiários. Mas, à medida que os dias vão passando, habituamo-nos a conviver com os cenários.
Depois de adquirirmos uma certa imunidade – que nos permite abocanhar um bife mal passado enquanto mastigamos impropérios de boca aberta, com os olhos postos na televisão –, a discussão passa a girar em torno da cobertura televisiva dos acontecimentos.
Onde acaba a informação e começa a exploração? Nada de novo.
E agora, com a tragédia na Madeira, vai dar ao mesmo. Mas vale a pena atentar num pormenor e lançar mais uma acha para a mesa do jantar: o acto heróico de um bombeiro que quase perdeu a vida para salvar uma criança.
Sim, é uma boa obra, que ninguém tenha dúvidas.
Só que, ao ser transmitida ao mundo, não se tornará uma melhor história do que uma boa obra?
Com a sua permissão, um desabafo.
ResponderExcluirPor analogia. “ Um desabamento anunciado “
Nunca pensei que isto fosse possível no meu país, os sítios noticiosos regem-se pelas mesmíssimas leis que se aplicam às edições em papel (a Lei de Imprensa e,naturalmente, os códigos Penal e Civil).
Ninguém, no entanto, o diria: os comentários dos jornais, TV, revistas e rádios são caudais de injúrias, calúnias e ordinarice, sem que os responsáveis dos meios pareçam capazes de reagir. Há uns anos era impensável publicar a maioria das coisas que "deixam passar" no on-line ninguém quer afrontar "a voz do povo".
Os motivos são de duas ordens. Comerciais, desde logo: os comentários "abertos" geram mais tráfego, atraindo publicidade, e se os concorrentes "abrem", é preciso acompanhá-los. Mas também ideológicos: se a democracia coloca todos em pé de igualdade, toda a gente deve poder dizer o que lhe aprouver; restringir de algum modo essa expressão é "censura", ou seja, anti-democrático.
Os jornais, cuja responsabilidade social é elevada, escolheram não estabelecer qualquer filtro em relação ao que publicam e submeter assim leitores e autores a uma barragem de acusações, insultos, e impropérios. Isto não é só intolerável do ponto de vista dos visados; é uma ofensa à democracia, à liberdade de expressão e à dignidade e missão da comunicação social. Dizem-me, não sejas tão rígido, não ligues importância, o nível de hipocrisia é tal que podia cortar-se à faca.
Infelizmente não vejo ninguém a indignar-se, talvez porque se habituaram e convivem bem com isso. Eu não.
Com a sua permissão.
ResponderExcluirEncontrei este vídeo que é uma elucidação brilhante sobre a necessidade de “'austeridade e a crise financeira”.
Como profissional, sei explicar a situação mas de forma técnica. Ora, este homem consegue explicar de forma acessível até para um leigo. Não está ao alcance de qualquer Economista, aliás já li e ouvi várias opiniões (técnicas) algumas das quais discordo mas com esta clareza não e, talvez por coincidência a minha análise também é esta. O que eu temo não é o neoliberalismo mas a especulação financeira. O mercado não está regulado. Assim, se compreende por exemplo a situação da Irlanda e da Grécia. Quanto a Portugal estou com sérias duvidas de que não aconteça o mesmo. As taxas de juro actuais são imprevisíveis.
http://www.youtube.com/watch?v=E1Kzp5EVUWg&feature=player_embedded
Com a sua permissão. Reflecti muito para tentar de forma acessível e sintética explicar o essencial da crise financeira. Tive o cuidado de escolher as palavras omitindo as técnicas. Penso que consegui.
ResponderExcluirA crise financeira começou, nos Estados Unidos, e alastrou-se.
Nenhum país ficou imune, só que uns foram mais afectados que outros.
O erro da teoria da eficiência dos mercados financeiros consiste em transpor, para os produtos financeiros, a teoria usualmente aplicada aos mercados de bens correntes.
Nestes, a concorrência é em parte auto-regulada, em virtude do que se chama a "lei" da oferta e da procura: quando o preço de um bem aumenta, os produtores aumentam a sua oferta e os compradores reduzem a procura; o preço baixa e regressa, portanto, ao seu nível de equilíbrio.
No mercado financeiro a situação é muito diferente. Quando o preço aumenta é frequente constatar não uma descida mas sim um aumento da procura! De facto, a subida de preço significa uma rentabilidade maior para aqueles que possuem o título, em virtude das mais-valias que auferem.
A subida de preço atrai portanto novos compradores, o que reforça ainda mais a subida inicial.
É a bolha especulativa: uma subida acumulada dos preços que se alimenta a si própria.
Um título financeiro é um direito sobre rendimentos futuros: para o avaliar é necessário prever o que será o futuro.
O capitalismo está a provar o quanto é antitético ao comunismo, enquanto este implodiu de fora para dentro devido às pressões externas, aquele está explodindo graças às forças deletérias imperantes no seu núcleo. Isto prova o quanto o capitalismo é insustentável perante os novos paradigmas impostos pelo novo século.
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