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11 de nov. de 2009

O último suspiro do centenário Moinho Hidráulico abandonado.

Encontrar sítios abandonados intactos é o sonho de todo o explorador. Há muito tempo eu via pelo canto do olho, quando subia ou descia a estrada São Vendelino (RS-446), Rio grande do Sul*, um moinho hidráulico em meio ao matagal, um pouco além da margem da rodovia, localizado a três quilômetros da cidade de Carlos Barbosa.

Pois bem, no dia 21/03/2008 resolvi parar o carro no local e matar a curiosidade. Devidamente munido da minha câmera digital, adentrei pela estradinha secundária e me deparei com um santuário histórico decadente, abandonado e intacto.
Vista geral do moinho
Moinho de água São José visto da rodovia.

Trata-se do antigo moinho de água São José, infelizmente até aquela data, atirado às traças e completamente à merce de possíveis vândalos.
Casa do Moinho
Casa abandonada do molineiro (Residência de Tranquilo Carlotto).

Felizmente, conforme pode ser comprovado pelas imagens, encontrei toda a estrutura intacta, embora fortemente atacada pela ação do tempo.
Vista geral da Roda principal
Vista geral da Roda d'água principal.

Quando me deparo com mecanismos abandonados, às vezes fico horas meditando sobre antigos acontecimentos que lá porventura tenham se passado.
Rodas de Transmissão
Rodas de Transmissão que transmitem a tração da roda d'água ao eixo principal do moinho.

Infelizmente, as fotos do dia 21 ficaram ruins devido à crescente falta de luz do entardecer, o que me obrigou a retornar ao local na aurora do dia seguinte.
Detalhe das rodas de transmissão
Detalhe das engrenagens de transmissão.


Vista geral do duto de água
Canaleta de água que faz girar a roda principal.
O valor histórico deste moinho é legítimo, pois foi construído em 1887, numa época em que não havia motores. Então, naqueles tempos, a única maneira de moer cereais era aproveitando a força das águas. Além disto, o moinho abrigava uma ferraria.
Detalhe do duto de água
Detalhe da canaleta de água.

Tive sorte de encontrar as instalações neste estado, pois meses depois quando passei pelo local, a estrutura estava coberta de tapumes. A restauração se iniciara em setembro de 2008**.
Detalhe da roda principal
Detalhe da roda d'água.

As notícias da restauração dão conta de que vários materiais aqui fotografados se perderam para sempre: a roda d’água teve seu eixo substituído por outro de material mais adequado e com alinhamento perfeito. Além do eixo, foram substituídas as madeiras deterioradas. O restante da roda foi recuperado, preservando a originalidade da peça. Todo o sistema de transmissão, constituído por eixos, mancais, polias e correias, passou por ajustes para reduzir esforços e melhorar o desempenho do mecanismo.
Detalhe da roda e duto
Detalhe da roda principal e o duto.

Hoje descubro que fiz os últimos registros da decadência do moinho, depois da sua parada em 2005 devido ao rompimento do eixo da roda d'água. Houve uma tentativa mal sucedida de restauro em 2007.
Vista lateral da roda principal
Vista lateral da roda d'água.

Até a parada definitiva, o mecanismo funcionou ao longo de 118 anos ininterruptamente, considerado o moinho mais antigo e de maior tempo de atividade do Rio Grande do Sul.
Vista do interior do moinho
Vista do interior do moinho.

Foi compensadora a contemplação de 121 anos, como se fora um viajante de tempo perscrutando as ruínas da história.
Vista geral do Interior do Moinho
Vista do moedor principal no interior do moinho.

Os detalhes do interior do galpão puderam ser fotografados através das generosas frestas das paredes de madeira, pois as portas eram guarnecidas por velhos cadeados que preferi não arrombar.
Detalhe do Interior do Moinho
Detalhe do interior do moinho e parte do eixo principal.

Atualmente, quando você subir a serra gaúcha e der uma paradinha no local do Moinho São José, encontrará o sítio repaginado para as demandas turísticas. Porém, agora os visitantes poderão observar o funcionamento ao vivo das engrenagens através de uma janela didática.
Velha roda de madeira
Velha roda sucateada de madeira na frente do galpão do moinho.

A visão da roda arruinada à beira da estradinha deserta, certamente me induziu a uma profunda reflexão sobre a ação implacável do tempo e a transitoriedade da vida. Cheguei a pressentir ecos longínquos da algazarra de crianças e do burburinho de pessoas atarefadas, às voltas com mais um dia de trabalho que se iniciava.

Aos poucos, o silêncio do presente se interpôs às brumas do sonho, era chegado o momento de partir e deixar para trás a cápsula do tempo cristalizada sob a forma de uma roda d'água paralisada.

Galeria de fotos em alta definição publicadas no [Flickr].

*Br-446 permite a subida de serra gaúcha via cidade de São Vendelino até a cidade de Carlos Barbosa, que fica alto da serra.

Você pode ver o ponto exato do Moinho São José baixando o marcador do Google Earth aqui.

**Notícias sobre a restauração do Moinho São José desde os primeiros meses de 2009 [Moinho São José].

6 comentários:

  1. A transitoriedade do tempo, a beleza das fotos emoldura essa reflexão profunda.
    Bom saber que este registro histórico ficará como lembrança de um tempo em que havia mais tempo.

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  2. Belíssimo post! Também adoro ruías de lugares há muito abandonados. Parabéns também pela poesia do post!

    TES

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  3. Parabéns por sua iniciativa. Nunca visitei a Serra Gaucha mas viagei um pouco no seu post. Tenha certeza que sua parada no local foi importante.

    Abraços!

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  4. O filme "Sonhos" de Akira Kurosawa tem várias histórias interessantes sendo que na última aparecem vários desses incríveis moinhos ...assisti a esse filme várias vezes por causa deles...

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  5. Excelente a ideia de documentar estas maravilhas que estao se acabando. Se as pessoas valorizassem como seria otimo mostrar estes engenhos para nossos filhos e netos. Estas fontes de energia mecanica deveriam ser ainda exploradas nos dias de hoje pois náo poluem e tem uma durabilidade muito grande alem do valor historico que isso representa. Sou aficcionado por este tipo de coisas que nos remetem ao passado e para conhecimento do colegas internautas, ainda hoje ha fabricas de moinhos de pedra pois os graos ali moidos possuemo um sabor diferente pois preservam as propriedades naturais dos alimentos e isso se comprova haja vista que na Alemanha sáo fabricados moinhos portateis que usam o sistema de trituracáo por pedras sem contar com a economia que representam e ausencia de poluentes tanto sonoros como do ar. Lemtro-me que quando crianca(hoje com 53 anos,) havia dois vizinhos nossos ali na cidade de Ibicare estado de Santa Catarina que possuiam um sistema como esse e funcionava para carregar baterias, socar erva mate, gerar energia para uso domestico moer gráos etc, infelismente nada resiste a acao do tempo. Portanto guardemos com muito zelo as fotografias. Um abraco. Gabriel Dalla Lasta. Bauru, SP.

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  6. tri bom, valeu, ótimas fotos, quando morei em Ipê esse era meu esporte favorito e ainda é...

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