A cena segue invariavelmente o mesmo roteiro: uma mãe ou pai que costuma levar de carro todos os dias o seu bebê à creche e num belo dia, por cargas d'água, tem a rotina alterada e a criança é esquecida dormindo no banco de trás do automóvel. O resultado quase sempre acaba em tragédia.
A cada triste reprise de "Esqueceram de mim"*, surgem as condenações de praxe. No entanto, antes de atirar pedra na Geni**, é preciso admitir um fato óbvio e ululante: nenhuma mãe ou pai quer matar seu bebê, nem que Freud explique.
Portanto, outros fatores devem ser buscados, para que possamos entender um ato tresloucado e aparentemente sem sentido. Notícia publicada no G1.
Quebra de rotina.
Diante de uma tragédia destas, sempre aparecem os "freudianos" de plantão alegando "rejeição inconsciente" da maternidade/paternidade. No entanto, só quem vive nas grandes cidades conhece o perrengue da vida competitiva e o enfrentamento diário no caos do trânsito.
Sejamos condescendentes com a mãe: anos atrás, uma mulher com filho pequeno reservava 100% do seu tempo para a nova cria durante pelo menos três anos. Hoje, a necessidade obriga a mulher a entrar no mercado de trabalho, logo, tem que deixar necessariamente o bebê numa creche desde os primeiros meses de vida.
Em face da brutal rotina enfrentada diuturnamente pelos cidadãos, uma pequena mudança na programação pode trazer consequências catastróficas. Que atire a primeira pedra a pessoa livre de estresse e correrias...
Vidros escuros.
O caos na segurança obrigou as pessoas a se protegerem contra o mundo exterior através do escurecimento dos vidros do carro. E isso se torna uma faca de dois gumes, pois além das pessoas não conseguirem bisbilhotar o interior do veículo por mal, também não farão por bem. Na situação de uma criança prisioneira dentro de um veículo, seria altamente salutar se os transeuntes pudessem vislumbrar o que está ocorrendo no seu interior.
Criança no banco de trás.
A localização da cadeirinha no banco de trás é um fator que contribui para esquecimento.
Falta de dispositivo de segurança.
Mesmo havendo toda uma eletrônica embarcada nos carros atuais, falta um mecanismo de monitoramento especialmente desenhado para impedir que crianças, ou pessoas fiquem aprisionadas dentro do veículo.
Uso de fralda descartável.
O uso generalizado de fraldas descartáveis trouxe como benefício o conforto das crianças. Porém, o fato dos bebês não incomodarem nos deslocamentos do trânsito, torna-os alvos fáceis de esquecimento por parte dos atarefados responsáveis.
Por essas e por outras, que os pais de filhos mortos por esquecimento dentro de carros acabam obtendo o perdão judicial, pois a dor da perda já é uma pena perpétua em si mesma.
Referências:
* Esqueceram de mim: famosa comédia americana da década de 90 que retratava as peripécias de um menino esquecido em casa [Wikipédia].
** Atirar pedra na Geni: Referência à Ópera do Malandro de Chico Buarque (1978) que conta a história do travesti Geni, "rainha das loucas e dos lazarentos":
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita para apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá para qualquer um
Maldita Geni.
Concordo com vc;é muito triste a situação de uma mãe ou um pai nessa situação.Doloroso,mesmo.
ResponderExcluirnosso cérebro se acostuma a cumprir tarefas rotineiras, quando se sai da sequência pré-programada é que ocorrem os problemas. nesses casos de esquecimentos de bebês, pode ver que sempre algo mudou na rotina, mas as mães/pais tinham nítida impressão de terem deixado os filhos onde sempre os deixavam, na creche. o perdão judicial ocorre nestes casos pois a consequência do "crime" é tão mais dolorosa para quem o cometeu do que qualquer castigo imposto pela sociedade...
ResponderExcluirAh, Vai si F***ê!!!! Esquecer filho no carro!!! E ainda obter perdão judicial!!!! Se faz isso com a própria filha, o que não é capaz de fazer com os filhos dos outros!!!! Vai em cana!!! Refletir sobre o que fez, e, com sorte, arranjar um "casamento" com uma sapata bem feia!!!!
ResponderExcluirTemo que isto possa acontecer com qualquer um de nós, ninguém está livre de uma bobeira gigantesca.
ResponderExcluirCom isso eu mer pergunto.
ResponderExcluirO que é mais criminoso ou (irresponsável).
Esquecer o filho dentro do carro ou colocar um bebê de 6 MESES numa creche?????
Mundo moderno.....
Vocês estão querendo justificar o injustificavel...
ResponderExcluirNada...nada explica um "esquecimento" desses...
Sou pai de duas crianças...e quando saio com elas...meu sentidos ~sao TOTALMENTE voltados para elas...
Se alguem corre perigo sou eu...pois muitas vezes deixo minha segurança de lado...por só estar atento a elas...
Na Alemanha as cadeirinhas de bebê ficam na frente com os bebês virados de costas para o parabrisa. Desse modo, além da mãe ou pai que está dirigindo poder ver o que está acontecendo com o bebê todo o tempo, fica consciente ao estacionar que seu bebê ainda está ali.
ResponderExcluirEssa obrigatoriedade da cadeirinha no banco de trás é uma lei que está se revelando burra e insegura para as crianças.
Melhor não ter filho...
ResponderExcluirA segurança da criança é um aspecto primordial para os pais e as mães certamente que o dos perigos que pode encontrar em todos os locais em que se encontra e ao longo das diversas etapas do seu crescimento.
ResponderExcluirÉ por essa razão que talvez possamos encontrar em casa protecções nas portas e janelas, fornos, lareiras, etc...
A ilustre comentarista que me antecedeu mencionou a Alemanha, em Portugal só se tornou obrigatório em 2008 pois estavam a morrer centenas de crianças.
Recordo-me que a população de Lisboa, se organizou e criou uma comissão a que chamou “ cidadãos auto mobilizados “ e ainda hoje existe. Isso obrigou o Estado a legislar nesse sentido.
Conclusão, Portugal está na cauda Europa. Que tristeza.
Mário, eu me deu conta de que Portugal pertencia à EU por meio do filme de Win Wenders "Sob o Céu de Lisboa". Quando o personagem penetra nas fronteiras lusitanas se depara com guaritas abandonadas e toda a sorte de decadências. Quando caíram as barreiras alfandegárias, a linha de fronteira com a Espanha virou terra de ninguém. Não sei se ainda hoje está nesta situação, mas foi interessante contemplar a desolação do sonoplasta precisando de ajuda no meio do nada fronteiriço.
ResponderExcluirDeveriam permitir a cadeira do bebê na dianteira. Por mais raro que isso possa ser, nunca mais aconteceria.
ResponderExcluirOs que criticaram, eles devem ser pais perfeitos, maravilhosos, sem erros. Só não cometeram um erro apenas né? O de esquecer seu filho em algum lugar. Jogue a sua pedra mas não jogue pra cima pois ela volta pra sua cara.
Na Alemanha eles permitem bebê na frente, só que com a cadeirinha posicionada ao contrário.
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