1- Ser um filme erótico.
Atualmente o Último Tango em Paris não pode ser considerado um filme erótico. Apesar de ele recorrer ao uso de cenas sexualmente picantes, o seu fio condutor remete mais às críticas a sociedade burguesa do que às transas loucas de um coroa enlutado. Quando dois desconhecidos se encontram num apartamento vazio, partem em busca do sentido da vida. O Paul interpretado por Marlon Brando Marlon Brando, está chegando ao fim da linha da sua e a Jeanne interpretada pela novata Maria Schneider se debatem entre o niilismo geriátrico do primeiro e o rito de passagem para a vida pequeno-burguesa da segunda.
Carlos Gerbase defende a revisão do filme, que tendo passado para a história como um filme erótico, perdeu as suas leituras mais eloquentes.
2- Ter sido um escândalo sexual.
O mundo contemporâneo tanto se embruteceu para os escândalos sexuais, que o próprio conceito de escândalo se esvaiu. Assim, na sociedade de consumo onde nada é proibido, quem fizesse um remake do Último Tango em Paris, optaria certamente por caminhos bastante diferentes para repaginar o conteúdo psicológico contido no roteiro. É o que esperam fazer Tom Cruise e Katie Holmes, quando decidirem refilmar o Último Tango em Paris ou o Instinto Selvagem, mas descartando a tremenda carga sensual que caracterizou a ambos.
3- A câmera que se funde à particularidade dos movimentos de olhos de Bertolucci.
Os famosos movimentos de câmera e os enquadramentos esquisitos emprestaram ao Último Tango a aura que ainda hoje mantém. Bertolucci, frente à exigüidade do cenário, pode depurar o seu olho de realizador e quase que fundi-lo à câmera. É sob este ângulo que se justificam os movimentos rápidos de câmera e os closes, como se fosse o olho humano a perscrutar as cenas que de outra maneira, teriam sido engolidas pelo desinteresse cênico de um apartamento desnudo.
O Blog Cine7 ressalta o oscar de melhor realização ganho pelo filme. Uma homenagem a câmera que não se revela discreta ao optar pelos devaneios, ora a estilizar espaços, ora a potencializar a carga emocional dos personagens envolvidos em suas questões de vida e morte.
4- A mulher-objeto sempre pronta para atender as ganâncias masculinas.
A atriz Maria Schnneider em entrevista décadas mais tarde revelou o seu drama durante as filmagens. Não só o filme passa a mensagem de uma jovem mulher que se submete aos caprichos brutais de Paul, como também a mulher de carne e osso que a interpretou se sentiu ultrajada em algumas nebulosas circunstâncias, como na famosíssima cena de sodomia amanteigada, que mesmo não constando do script original do filme, foi sugerida por Brando e acatada alegremente pelo diretor Bertolucci.
5- Sexo entre faixas etárias.
Um coroa que estupra uma ninfeta de 19 anos, se causou polêmica há 36 anos, hoje continua causando por motivos diferentes. No tempo da liberdade sexual e da afirmação do indivíduo perante o sistema, a própria exibição do ato sexual era tida como libelo libertário contra uma sociedade conservadora. Hoje, a mesma ação é vista sob o ponto de vista politicamente correto do direito da mulher ao seu próprio corpo, ou seja, o contexto da polêmica não mudou, só mudou de nível. No mais, as diferenças de idade entre os parceiros sexuais continua sendo rejeitada pela sociedade de agora.
6- A mulher que “gosta” de ser estuprada.
Em 1976 um homem que se encontra sozinho dentro de um apartamento com uma desconhecida interessada em lhe alugar o apartamento e se põem sobre ela para consumar unilateralmente o ato sexual, foi interpretado mais como uma afirmação da liberdade daqueles tempos paz e amor em Woodstock, do que como violência. Hoje, as lentes sociais ajustadas ao politicamente correto não mais interpretam a cena como uma afirmação libertária, mas como uma violência sexual criminosa.
Sob este prisma se oculta o contra-senso ideológico do Último Tango: como pode um filme de teor libertário ter se apropriado da tese de senso comum de que as mulheres estupradas terminam “gostando” de serem tomadas à força? Por conta deste tipo de pensamento é que se impôs a criação de delegacias especializadas em mulheres, onde não mais haveria homens com risadinhas irônicas na cara, enquanto perguntavam às vítimas de estupro se elas tinham “gostado” de terem sido submetidas à força.
7- O assédio sexual na época em que não havia sido inventado.
Em 1972 a figura do assédio sexual ainda não havia sido inventada. Na época ainda se lutava contra as ditaduras que grassavam em vários lugares do mundo “civilizado”, não havendo lugar ainda para as subtilidades politicamente corretas embasadoras dos códigos penais pós guerra fria. Em plena era hippie não havia lugar para a repressão dos impulsos e o Último Tango é a expressão desta forma de ver o mundo, num universo onde o maior mal das relações sexuais eram os filhos indesejados, quando a pílula anticoncepcional foi inventada, todos puderam se deixar cair livremente no império dos sentidos.
8- O papel da nudez nos filmes e o sexo instantâneo sem nus.
A cena de estupro mais famosa do cinema é uma rápida seqüência realizada em semi escuridão, quando o personagem Paul possui Jeanne contra uma parede do apartamento nu. Sendo que é um sexo sem nudez, contrariamente ao que acontece nos filmes da época.
A propósito da nudez em filmes, o diretor Geraldo Thomas defendeu o uso cênico da nudez durante o episódio do manifesto contra a nudez no cinema nacional assinado pelo ator Pedro Cardoso. Corroborando Thomas, Bertolucci usou a nudez juvenil da atriz Maria Schneider como uma ponte entre a negação da intimidade de Paul e o amor arrebatado que Jeanne julga sentir. Com isto, o Último Tango inscreveu nas páginas da história do cinema algumas das cenas mais antológicas de sexo de todos os tempos. Porém, a maior nudez do Último Tango continua sendo o apartamento irremediavelmente nu.
9- Um libelo de protesto contra a burguesia careta.
O fio condutor do filme é a panfletagem libertária, tão cara naqueles tempos. Hoje, talvez algumas daquelas pregações soem um tanto quanto ingênuas, frente a um mundo para o qual o sonho acabou. O sinal de que algumas mensagens do Último Tango envelheceram pode ser comprovado pela fala de Brando durante a famosa cena da curra sodomita lubrificada a manteiga:
- Vou lhe falar de segredos de família, essa sagrada instituição que pretende incutir virtude em selvagens. Repita o que vou dizer, sagrada família, teto de bons cidadãos. Diga! As crianças são torturadas até mentirem. A vontade é esmagada pela repressão. A liberdade é assassinada pelo egoísmo. Família, porra de família!
10- Intimismo entre 4 paredes nuas.
Não é um realizador cinematográfico menor que é capaz de extrair tanto de recursos cênicos tão escassos. A renúncia aos faustosos cenários hollywoodianos se assenta numa explicação muito simples: uma das obsessões do jovem Bertolucci na realização do filme era contrapor a exagerada intelectualização da filmografia francesa. Desta forma, ambientando a sua trama em Paris, dá um tom visceral à história, tanto na economia de falas do roteiro, como na característica espontaneidade brutal da atuação do ator escolhido para interpretar Paul, o instintivo Marlon Brando.
Ironicamente o tema musical do filme não foi composto por um tanguista, tendo sido inicialmente cogitado o grande Astor Piazzola, a trilha sonora acabou ficando à cargo do jazzista Gato Barbieri.
Links relacionados.
Curiosidades do Último Tango.
Sobre perdas, entrega e manteiga.
Entre prós e contras, os contras foram publicados pela revista Veja, sob o título “Fora de compasso, cacoetes tiram de Último Tango a aura de obra-prima que ele manteve por três décadas”.
Bernardo Bertolucci.
faixa etária .... vce sou eu amanhã//
ResponderExcluirdiscriminação//brancos//negros//gls/
excesso de femeas//tu não sabe nada...deve ser surdinho de rock...teu DNA é furado.........