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23 de ago. de 2010

A preguiça é um bicho de 7 cabeças.

Desde tempos imemoriais a preguiça é considerada um dos 7 pecados capitais, juntamente com a ira, inveja, orgulho, avareza, gula e luxúria.
Assim, seguindo esta tradição, o genial pintor medieval holandês Hieronymus Bosch nos legou a obra que simboliza os 7 pecados em seus momentos mais significativos e, como não poderia deixar de ser, a preguiça aparece representada pelo sujeito derreado na sua cadeira, com a cabeça ancorada num travesseiro, enquanto a mulher virtuosa, portando um terço na mão, tenta em vão demovê-lo da pesada letargia.
De acordo com a filosofia grega, como a preguiça provem do coração (thymós*), portanto, nascedora das emoções, os seus principais sintomas são estados acachapantes de falta de ânimo que induzem o vazio e a perda de foco. Contrário senso, a preguiça não descansa e nem relaxa, já que o indivíduo oscila entre a culpa e o abandono, qual náufrago navegando à deriva. Rolam os anos e diante de nada que o mobilize, o preguiçoso termina se deixando cair em níveis cada mais profundos, até que da vida só reste um punhado de imagens envelhecidas.

A este verdeiro câncer que devora a vida moderna, podem ser atribuídas sete cabeças metafóricas, que misturam causas e efeitos do turbilhão de viver plenamente num mundo conectado ao longo das 24 horas do dia, com a sensação de impotência para açambarcar a demanda frenética .

Vida turbulenta.
Quando você se afasta da natureza, seus pés abandonam a terra e a sua cabeça não mais desanuvia sob folhas orvalhadas, a sua tendência é cair em Koyaanisqatsi, palavra do povo Hope (tribo indígena americana) para designar: vida louca, vida em turbilhão, vida em desintegração, vida fora de equilíbrio, um estado de caos que clama por outro estilo de vida.
Isto significa que a existência nas grandes cidades é um inferno estroboscópico, fétido e barulhento a clamar pela prostração do deixar-se ficar atirado no sofá comendo pipocas e fritas e bebendo líquidos prazerosos.
Cena do filme Koyaanisqatsi de Godfrey Reggio.

» Escolha o seu dia de Zumbi.

Sedentarismo, causa ou consequência?
A tendência ao sedentarismo - potencializada pelo comodismo propiciado por elevadores, escadas rolantes, portas elétricas, autos, controles remotos, etc. – é a principal manifestação do demônio nos dias atuais. Como arranjar tempo para ir à academia, se você tem que atravessar um mar de trânsito selvagem e atolar como uma tartaruga nos engarrafamentos infindáveis?



Apatia Sexual.
Dormindo depois do sexoProcure no Google a combinação dos termos “preguiça sexo” e terá à disposição milhares de lugares falando sobre a falta de disposição para a arte mais mais antiga do mundo de Adão e Eva. Até uma sex symbol renomada confessa que não tem muita vontade de ir para a cama, exceto para dormir. Tudo por que? Culpa do velho excesso de trabalho e dos compromissos que se avultam.
» Penélope Cruz tem preguiça de fazer sexo.

Demônio que é Doença.
Por esta os medievais não esperavam! Atualmente, foi constatado que o demônio da preguiça pode fazer parte de um quadro patológico e não apenas resultante da falta de vontade do indivíduo de pegar no batente. Na maioria das vezes existe um quadro depressivo subjacente.
» Preguiça é uma doença, dizem especialistas.
» Doenças modernas, entre elas a insônia, tem fundo psíquico.

Falta de sesta.

Dormir é o melhor remédio! Pena que o mundo moderno não ofereça condições dignas para que as pessoas tirem no mínimo uns 15 minutos de sonequinha após o almoço. Os cientistas chegaram à conclusão que «Fazer sesta é bom para o coração e prolonga a vida».
» A sesta pode te tornar imortal!
» Dormir no trabalho é legal!

Trabalhar no que não se gosta.
Você apostou as fichas da sua vida num emprego ou num trabalho? Se as escolhas foram sempre em função da segurança e dinheiro, pode ser que as frustrações acumuladas realimentem o estado permanente de desânimo e tédio com a vida, a mola-mestra da preguiça crônica.
» 10 lugares enfadonhos e insólitos para se dormir.

Ócio criativo.
É possível não separar trabalho de lazer e viver um como se estivesse fazendo o outro? Quem faz o que gosta aparenta estar sempre se divertindo. Esta é a essência da mensagem que o escritor Domenico de Masi lança no seu livro “O Ócio Criativo”, ele sim, presumivelmente um dos seres que superou a culpa reinante entre o merecido descanso e o trabalho.
» Saiba o que é e pratique o ócio criativo.

(*) Artigo relacionado:
» O demônio da preguiça visto sob a perspectiva da filosofia clássica grega.

6 comentários:

  1. Nota introdutória: Quem não gostava de ser um erudito como você Isaías?
    Ao ler o post, pensei, “ Elogio Ao Ócio” de Bertrand Russell. Este foi o filósofo que mais influenciou a minha forma de relectir. Não subscrevo tudo o que ele escreveu,nomeadamente “ Porque não sou cristão”. Confesso que durante anos tentei,tentei,obter argumentos. Desisti.

    O trabalho deve ser visto no seu sentido amplo. Assim, tanto trabalha o agricultor como o operário, o engenheiro, o estudante, o médico ou o professor.

    Não se pode ignorar que, dada a revolução tecnocientífica, cada vez mais o trabalho vai tornar-se um bem escasso, que será necessário repartir de modo justo e com todas as consequências. Escreveu Russell “ Se o trabalhador comum trabalhasse quatro horas por dia, haveria o suficiente para todos e não haveria desemprego” O resto do tempo…

    Não há aqui de modo nenhum a apologia da preguiça.

    Diz a Bíblia “O preguiçoso é semelhante a uma pedra cheia de lodo; é semelhante a um punhado de esterco; quem lhe tocar sacudirá as mãos."

    É de um horizonte outro de vida que se trata.

    O trabalho implicará sempre esforço, sacrifício, cansaço. Daí também a necessidade do ócio, da festa, do tempo livre, das férias. Que palavra mágica: férias, ir de férias! Tem o sentido de "descanso, repouso, paz “.

    O homem é homem no trabalho e na festa. Encontrar a alegria, do estar repousado consigo próprio, da quietude contemplativa do silêncio.
    Também a alegria da viagem, o encontro de culturas e outros modos de ser homem de dialogar e aprender.

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  2. Mario, depois que houve o desvirtuamento do sentido da vida sob a concepção medieval "trabalhar para viver" para o "trabalhar para consumir" forjado na era industrial da descartabilidade, abriu-se uma zona de lusco-fusco entre preguiça e atividade. Como todas as aporias ensejadas na pós-modernidade, faz sentido atualmente trabalhar para ganhar o sustento mínimo necessário, ou a lógica categórica imperante do TER MAIS é inquebrantável?
    Assim, as pessoas se violentam na busca do ideal da vida glamourizada, alcançável somente através de muito dinheiro, enquanto perdem o bem mais precioso deixado para trás: a plenitude da vida simples.

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  3. Ela acordou, como de uns tempos a esta parte, com a sensação de cansado habitual.
    Olha em redor, todas as coisas da casa encontram-se amontoadas, roupa e loiça para lavar, objectos fora do lugar um caos.lavar, objectos fora do lugar um caos.lavar, objectos fora do lugar um caos.
    Então perante tal facto, decide pôr mãos à obra.
    Cheia de vontade e de aparente energia inicia o trabalho há muito adiado.
    Passados uns quinze ou vinte minutos de andar de um lado para o outro, sem ter feito algo que se “ veja “ senta-se no sofá e deixa-se lá ficar olhando para tudo, mas na realidade nada vendo. Sente uma preguiça danada, deita-se ficando assim horas, dias semanas. É assim o quotidiano de uma mulher preguiçosa.

    A preguiça pecado capital, veio acompanhada de uma depressão. Ou será que a depressão é que veio acompanhada da preguiça?
    Seja qual for a resposta, o que importa é saber se esta mulher está feliz com a sua preguiça. Claro que não. Sente-se inútil sem objectivo na vida.
    Qual será a solução?
    Já sei! Encharcar-se em anti-depressivos aguardando que a crise passe. E porque não, para que a preguiça não atinja o cérebro, que tal pegar no computador e escrever qualquer coisa num blogue de preferência cultural.

    Assina:
    ROMY

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  4. Isaias, eu tenho como princípio de vida a simplicidade e que o homem não é o seu trabalho/profissão, apesar de gostar da minha não a considero lazer e sim meio agradável/criativo/responsável de sobreviver com dignidade.Sou arquiteta mas acima disso sou "Eu" portanto considero as exigências de meu corpo/mente importantes.Acredito,sim,que exista o ócio/descanso criativo porque enquanto o corpo descansa a mente saudável pensa, racionaliza,encontra respostas.
    Dentro do assunto, hoje pela manhã assisti uma cena que ilustra muito bem o que penso:numa esquina movimentada da Av. Osvaldo Aranha (POA), onde situa-se uma agência de banco(dos mais poderosos),repleta de pessoas nervosas e apressadas (conferindo extratos,negociando taxas,contabilizando riquezas, etc ),um papeleiro com o carrinho já abarrotado de papeis (féria do dia garantida), dorme sorrindo num colchão colocado sobre seu tesouro do dia.Quero dizer, através desse retrato da realidade,que cada indivíduo deve buscar a felicidade/satisfação dentro de suas circunstâncias, lutando, trabalhando mas não ignorando o seu compromisso maior que é viver a vida.
    Abraços.Sílvia.

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  5. Ah,gente,vocês falaram tão legal,tão bonito;mas concordo com a Silvia. #preguiçaderaciocinar

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  6. A preguiça move o mundo!
    Veja pelo controle remoto, porque alguem inventaria o controle remoto, se não tivesse preguiça de mudar o canal da tv?

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