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9 de ago. de 2009

Beleza e Mistério no comportamento de borboletas.

Agrupamento de Actinote surima
A imagem acima mostra indivíduos de Actinote surima (Nymphalidae)(1) reunidos em um arbusto ressecado. Essa organização de grupos no interior da população é um comportamento característico dessa espécie de borboletas(2). Várias espécies animais desenvolvem comportamento de agrupamentos, que podem ter diferentes papéis funcionais ou vantagens para o sucesso coletivo, ou individual. Em vertebrados é possível identificar com maior precisão os motivos e vantagens dos indivíduos.

Porém, no caso das borboletas, esse é um mistério ainda a ser esclarecido. A pergunta que muitos biólogos se fazem é: para que servem tais agrupamentos? Mas essa é uma questão difícil de responder, pois há vários padrões de formação desses agrupamentos e é muito difícil realizar experimentos para investigar seus motivos e vantagens.

Assim, ainda temos que permanecer no campo das cogitações, mas algumas hipóteses tem sido formuladas(3).

Sugere-se, por exemplo, que uma função do agrupamento de borboletas poderia estar relacionada à alimentação. Desse modo, quando uma população explora uma área grande, o benefício virá se, ao invés de ficar numa procura aleatória de novas áreas de alimentação, um indivíduo puder, simplesmente, se juntar a um grupo cujo comportamento indica que eles se encontrem numa área onde há alimento.

Outra explicação que poderia servir para essa espécie, em particular, é o fato de elas poderem estar se beneficiando por estarem camufladas, imitando folhas secas num galho. Note-se que os indivíduos se agruparam preferencialmente nos locais em que ainda restavam algumas folhas secas.

Uma terceira alternativa que poderia se aplicar ao caso é o reforço na aprendizagem de predadores. Estas espécies acumulam em seus corpos substâncias que lhes dão um sabor desagradável e as tornam impalatáveis aos pássaros. Desse modo, quando um pássaro tenta comer uma delas sente seu gosto “horripilante” e a regurgita (já que não sabe cuspir). O fato delas estarem juntas contribuiria para que esse pássaro reforçasse o aprendizado que aquele padrão de coloração é sinal de gosto horrível!

Poderíamos até mesmo supor, que um pássaro mais teimoso tentasse uma segunda borboleta e aí veria que, de fato, não dá para comer “petiscos” com aquela cor e padrão. Nesse caso, o grupo funciona como uma espécie de “roleta russa” para o indivíduo que é capturado, mas aquele pássaro deixará os demais indivíduos em paz, garantindo a sobrevivência da espécie como um todo.

Por: Gladis Franck da Cunha.

Notas:
1- A identificação da espécie foi possível pelo uso da chave: FRANCINI, R.B. ; PENZ, C.M.
Chave ilustrada para machos de Actinote do sudeste do Brasil (Lepidoptera, Nymphalidae). Biota Neotropica, On-line version ISSN 1676-0603

2- A referência sobre o comportamento da espécie pode ser obtido em: SACKIS, G. D.; MORAIS, A. B. B.
Borboletas (Lepidoptera: Hesperioidea e Papilionoidea) do campus da Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Rio Grande do Sul. Biota Neotropica, Vol. 8 (number 1): 2008; p. 151-158. Versão on-line completa disponível em: http://www.biotaneotropica.org.br/v8n1/pt/abstract?inventory+bn01908012008

3- A análise de várias hipóteses para explicar as vantagens desse comportamento são encontradas em: ENDRINGER F.B. ; SILVA P.R. ; LUTZ L.V. (2004)
Hipóteses evolutivas sobre a origem e manutenção dos dormitórios comunais de Heliconius erato (Lepidoptera, Nymphalidae). Natureza on line 2(1): 1–9., ESFA, 2004. [online]

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