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7 de ago. de 2009

Um estranho Rio capaz de "comer" ferro!

Em Huelva no sudoeste da Espanha há um rio chamado de “Tinto” porque suas águas tem uma coloração vermelha intensa. A cor parece alertar para a alta contaminação de suas águas por metais ou compostos metálicos especialmente o Ferro, bem como para a sua extrema acidez, devido à presença de ácido sulfúrico.

Esse ambiente muito ácido e tóxico passou por mais de cinco mil anos de mineração intensa, que começou com os Tartessos1, Ibéricos, Fenícios, Romanos e, mais recentemente, por uma companhia britânica que continuou até que a produção de cobre declinou nos anos oitenta e a de prata e ouro nos noventa.

Fundo do Rio Tinto
Encerrada a mineração o rio parecia ter morrido, porém, para surpresa de muitos, as análises preliminares mostraram que aquelas estavam abarrotadas de estranhas formas de vida: os microorganismos extremófilos. Entre eles, a bactéria Acidithiobacillis ferrooxidan que vive da oxidação de ferro, mas a comunidade microbiana do Rio Tinto é bastante complexa, sendo composta tanto de procariontes2 quanto eucariontes3.

Na base da pirâmide alimentar que sustenta essa rica comunidade estão os organismos classificados como PRODUTORES. Entre eles há alguns que são capazes de realizar fotossíntese como algas unicelulares. Outros, mais exóticos, são os que realizam a QUIMIOLITOSSÍNTESE, ou seja , eles oxidam compostos inorgânicos como ácido sulfúrico ou ferro, consumindo oxigênio nesse processo.

O problema é que a oxidação do ferro não rende muita energia, por isso estas bactérias tem que processar grandes quantidades desse material e qualquer pedaço de ferro que caia no Rio Tinto dura muito pouco tempo, sendo rapidamente devorado pelos por microorganismos que pululam em suas águas.

Todavia, o que mais surpreendeu os pesquisadores foi o alto grau de biodiversidade, nunca antes encontrado em ambientes semelhantes. Num rio que se acreditava morto, milhares de espécies distintas de organismos como fungos, algas verdes, amebas, flagelados, diatomáceas, leveduras e ciliados vivem e estabelecem complexas relações interespecíficas. Esse rio parece ter plasmado no tempo o contexto de um mundo primitivo rico em ferro como era a Terra há milhões de anos atrás, um mundo onde só havia microorganismos.

Por: Gladis Franck da Cunha.

Referência: NEOFRONTERAS. El rio Tinto Y sus extremófilos. maio, 2009. Disponível em http://neofronteras.com/especiales/?p=74

Notas:
1- Tartessos (Τάρτησσος) era o nome pelo qual os gregos conheciam a primeira civilização do Ocidente. Herdeira da cultura megalítica andaluza, que se desenvolveu no triângulo formado, atualmente, pelas cidades de Huelva, Sevilha e São Fernando, tendo por linha central o rio Tartessos, que os romanos chamaram de Baetis e os árabes Guadalquivir. Os tartessos desenvolveram uma língua e escrita distinta a dos povos vizinhos, e tiveram influências culturais de egípcios e fenícios (Wikipédia)

2- Procariontes são organismos formados por uma única célula que não possui um núcleo estruturado de modo que o DNA está imerso no citoplasma. São exemplos as bactérias.

3- Eucariontes são organismos constituídos por células com núcleo estruturado. Tais organismos podem ser constituídos por uma única célula, como os protozoários ou possuírem várias células desde poucas até bilhões, como nós.

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