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4 de ago. de 2009

Quando o mal se traveste em Beleza!


Lúcifer ou o Prometeu Acorrentado da mitologia grega foi castigado por Zeus por ter entregado ao Homem o domínio do fogo, que redundou na tecnologia. Atualmente, a tecnologia empregada sem uma ciência com consciência pode se transformar num tiro dado no próprio pé ou algo pior, através da poluição descontrolada.

Quando pensamos em poluição, instantaneamente, evocamos imagens mentais de feiúra como resíduos depositados numa mata nativa ou a fumaça negra saindo de uma chaminé. Se adicionamos sons e cheiros a essa evocação mnemônica lembraremos de ruídos e cheiros desagradáveis. Ou seja, o termo poluição nos remete a coisas feias, sujas e barulhentas. Se alguém me chamasse de feia, suja e barulhenta eu me sentiria uma bruxa malvada!

Porém, a Poluição pode ser definida como a introdução no ambiente de qualquer matéria ou energia que venha a alterar as propriedades físicas, químicas ou biológicas desse meio, provocando um efeito negativo no seu equilíbrio, causando assim danos à saúde dos seres vivos e ao ecossistema ai presente. De modo que um agente poluente pode ser belo, limpo e silencioso. Esse é o caso da Poluição Luminosa. Porém, se alguém me dissesse que sou uma pessoa ‘muito’ iluminada eu me sentiria uma fada, mas não uma malvada!

A bela imagem da Enseada de Botafogo acima é um exemplo de poluição luminosa. Ela foi capturada por Marco Antônio Teixeira na noite de 28 de março de 2009, quando deveria ter ocorrido a “Hora do Planeta” e as luzes deveriam ter sido apagadas. Esse apagão não tinha por objetivo apenas a economia de energia, já que o excesso de iluminação em si também tem causado sérios problemas ao ambiente.

Como destaca Alessandro Barghini: “Sendo gerada por sistemas com espectro de luz diferente do da radiação solar, a iluminação artificial exerce efeitos perversos sobre o ambiente, alguns dos quais têm sido evidenciados em estudos conduzidos no exterior e no Brasil. Foi comprovado que a iluminação noturna afeta as tartarugas marinhas, as aves migratórias, pequenos mamíferos e os sapos, reduzindo sua capacidade de reprodução (AgSolve)”.

Isso porque os organismos vivos, que evoluíram nos últimos 3,5 bilhões de anos, estão programados geneticamente para alternâncias de períodos de claridade e obscuridade, para as quais desenvolveram suas estratégias de sobrevivência. Assim, nem o ser humano é imune aos efeitos da iluminação artificial em excesso que pode induzir distúrbios comportamentais como hiperexcitação, além, possivelmente, da difusão de câncer de mama em mulheres em menopausa (AgSolve).

O impacto mais deletério da iluminação artificial é sobre os insetos e seus efeitos são imprevisíveis porque a eliminação de um polinizador pode levar a extinção de espécies vegetais, como ocorreu no projeto Biosfera 2.

A iluminação urbana também tem atraído, para áreas habitadas pelo homem, alguns insetos transmissores de graves doenças. Em 2005 ficou confirmado que a iluminação artificial está produzindo um novo padrão de difusão do mal de Chagas, como também tem facilitado a difusão da leishmaniose na periferia das cidades (AgSolve).

Apesar dos efeitos deletérios, nós nos sentimos bem em ambiente iluminados, mais seguros e até mesmo mais felizes. Não quero aqui fazer uma apologia à escuridão, mas incentivar o debate, pois existem tecnologias que podem minimizar os efeitos nocivos da iluminação excessiva. Exemplos disso são: filtros de radiação ultravioleta para as luminárias, apagamento das luzes em prédios comerciais em que não há expediente noturno, luminárias especialmente desenhadas, para que a luz não seja perdida para cima ou incida diretamente sobre a praia, substituição das lâmpadas fluorescente de mercúrio, que são extremamente nocivas, entre outros.

As medidas e os investimentos para o controle da poluição luminosa não são tão dispendiosos e até geram economia de energia e dinheiro público, mas não serão implementados até que sejamos capazes de ver a maldade travestida de beleza, pois o que os “olhos não veem o coração não sente” e isso não traz ganho político!

Por: Gladis Franck da Cunha.

Leituras complementares
1- Por favor, apague a luz! artigo de Alessandro Barghini publicado em AgSolve
2- Meio ambiente - Poluição Luminosa disponível no Portal São Francisco
3-Poluição Luminosa – Wikipedia.

Fontes das ilustrações:
1- Lúcifer (Catedral St. Paul Liege, Bélgica) por Monstropedia
2- Procellaria cinérea de Fotos Beno
3- Torre Eiffel da Galeria de Marcio Ismail

Um comentário:

  1. Não há cura para o nascimento nem para a morte, a não ser usufruir o intervalo." (Autor desconhecido)
    Intervalo. Será o belo que mais se aproxima da perfeição? O que eu, particularmente, acho perfeitamente razoável. Porém as nossas mentes também já estão poluidas.Somo egocêntricos.
    Reflectir, decidir seriam soluções. Contudo a expansão económica não se compadece com nada.
    Tudo terá que ser equacionado quer se queira quer não...está na hora.

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