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24 de ago. de 2009

Bem vindo ao Deserto do Real da Caverna de Platão: Filosofia em Animações.

A Alegoria da Caverna de Platão é essencialmente uma metáfora sobre a liberdade. Sabendo-se que a sociedade constrói grilhões que acorrentam os sujeitos às regras e rituais, o que aconteceria se alguém conseguisse escapar de tal prisão?

O visionário filósofo Platão, graças à experiência ruinosa do seu mestre Sócrates, diagnosticou a escravidão do ser humano como um mal social, ainda numa remota época há quatro séculos antes de Cristo. De lá para cá, o mito da caverna terá se mantido atual? Obras como o filme Matrix comprovam que sim, que a mensagem permanece e talvez tenha recrudescido numa era de consumismo desvairado.

O anime “She Who Measures” do croata Velkjko Popović repagina a Caverna de Platão aos nossos dias atuais de vida em turbilhão. Neste novo cenário transladado ao deserto do real dos nossos tempos, uma procissão patética de seres controlados por gadgets tipo smile percorre uma jornada simbólica num cenário surrealista. O carrinho de supermercado tocado à frente deixa cair os produtos, que são juntados pelos títeres subsequentes. Capitaneando a imensa fila, o grande líder branco dá o ritmo e o rumo, cuidando ao mesmo tempo para que seus controlados não se apercebam do deserto do real circundante.

O único personagem “desperto” tenta de todas as maneiras “acordar” os outros camaradas afastando-os dos produtos que eles recolhem autonomamente, ou tentando extrair os monitores pendurados na frente dos seus olhos. Tudo em vão, já que o grande líder branco detecta a anomalia e volta a fixar a TV nos olhos do último indivíduo da fila.

Frustradas as tentativas, nada mais resta ao desesperado lúcido senão se lançar ao abismo...

Animação produzida por Lemonade3d/Kenges:
Roteiro, direção e design: Veljko Popović
Animador chefe: Marin Kovačić
Chefe de modelagem: Milivoj Popović
Música e sonoplastia: Hrvoje Štefotić
Produção: Kenges

Abismo... que nada mais é do que outra metáfora de libertação abordada magistralmente no 4º episódio da animação Animatrix: Kid’s Story.


Upgrade da Caverna de Platão ao Deserto do Real.
A expressão “Deserto do Real” foi cunhada pelo escritor Jean Baudrillard no seu livro “Simulacros e Simulação”. Os irmãos Wachowski se apropriaram deste conceito e o incorporaram ao roteiro de Matrix e rendem-lhe homenagens; Morpheus a usa na saudação de boas vindas a Neo e o livro oco que contém os programas piratas repassados por Neo a um comprador é justamente o Simulacros e Simulação.
A atualidade de Platão vinte e quatro séculos depois é plenamente justificável, pois ele é o autor que melhor sistematizou a visão dos dois mundos: o das aparências e ilusões que constituem o sonho da vida, e o da realidade, onde repousam as coisas inteligíveis. Baudrillard e outros autores, quando se socorrem desta corrente filosófica, bebem diretamente na fonte platônica do universo dualístico.

A síntese suprema dessa dualidade foi imortalizada no diálogo entre Gláucon e Sócrates no livro “A República de Platão, Livro VII”. “Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma de caverna, com uma estrada aberta para a luz, que se estende a todo o comprimento dessa gruta. Estão lá dentro desde a infância, algemados de pernas e pescoços, de tal maneira que só lhes é dado permanecer no mesmo lugar e olhar em frente; são incapazes de voltar a cabeça por causa dos grilhões...”

Referências:
Platão e o Mito da Caverna. [Educaterra]
Assista no YouTube todos os Episódios de Animatrix.
Há 10 anos a Matrix chegava ao Deserto do Real.

7 comentários:

  1. Adjectivo para este post não me ocorre. Gostei imenso. Deu-me enorme prazer.
    Vou arriscar, certamente será uma besteira, mas a alusão aos vídeos o " Deserto do Real " é uma frase adequada.

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  2. Mário, procura-se seres inteligentes no mundo e há tão poucos, que só resta a esperança da lâmpada de Diógenes para encontrá-los.

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  3. Gostaria de citar algumas frases do maior de todos os líderes da história, sem precedentes; o maior filósofo que já existiu. Não é a toa que toda a história da humanidade se divide em aC e dC. Seu nome é Jesus. Este é o cara que disse:
    "Eu sou a luz...quem me segue não anda em trevas, mas terá a luz da vida". Ele também disse: "...e conhecereis a verdade, e ela vos libertará". Mais tarde ele completa:"eu sou o caminho, A VERDADE e a vida". Não seriam estas uma referência ao Mito da Caverna?

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Sim, na sua opinião pode ser o maior entre todos todos os líderes da história, entre todos os filósofos, mas só na sua mera opinião, paixão ou, como diria Platão, "doxa". Isso, portanto, não é uma verdade que todos necessariamente precisam compartilhar, isto é, é apenas a sua verdade. A divisão em a.C e d.C. não tem nada que ver com Jesus ser ou não ser grandioso, isso não é obvio e muito menos o é obtuso...O que dizem que ele disse não tem nada que ver com o Mito da Caverna de Platão...

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  4. Platão e sua alegoria da caverna em relação ao Deserto do Real existiram muito antes de Jesus. Essa é uma reflexão que cabe à qualquer pessoa independente da crença.

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  5. gostei muito!!!!!!!!!!!!!!! show

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