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16 de jul. de 2009

Compulsão, controle a sua e vença ou seja um fracassado!

Até a virada século passado, a depressão que era considerada como um grande mal. Hoje ela cedeu lugar à compulsão, que engloba as outras afecções e ganha relevância suficiente para ser considerada o grande mal do século XXI. Porém, vista dialeticamente, a compulsão pode ser tão nociva quanto um eventual excesso de ar que possamos respirar.

O detalhe sutil é que apenas uma tênue linha separa a normalidade da doença, já que todos somos mais ou menos compulsivos. No campo da suposta normalidade encontram-se os profissionais super talentosos que se destacam nas suas áreas de atuação. O lado positivo da compulsão também é explorado como marketing pessoal, a exemplo do Blog tocado por alguém que se apresenta sob o heterônimo de Usuário Compulsivo. É um típico exemplo da compulsão usada para o "lado do bem”.

O problema de cada um é discernir a amplitude da sua própria compulsão e o grande caminho para isto é mensurar o quanto de sofrimento psicológico isto está causando. Em plena sociedade de consumo, caracterizada pelo distanciamento entre as pessoas e a virtualização das relações, é grande a tendência dos indivíduos de desenvolverem compulsões como reação à pressão midiática, que impulsiona irresistivelmente os sujeitos a competirem pelo sucesso.

O pesado bombardeio social obriga os indivíduos a serem cada vez mais rápidos e eficientes, como se estivessem permanentemente numa corrida, potencializando a sensação de vida vazia. Então, você trabalha como um burro para adquirir coisas e alcançar a felicidade, que é efêmera e se desvanece depois de cada nova aquisição. A boa sensação do carro novo se esvai sob o peso das dívidas, a alegria da nova conquista amorosa é esmagada sob a monotonia do cotidiano e assim por diante, todos os prêmios alardeados pelo consumismo se desmancham no ar.

A forma de o sujeito superar a aporia do viver em busca do prazer que se esfumaça é apelar para a válvula de escape dos vícios; das drogas, transtornos alimentares, anorexia, obesidade e bulimia, automutilação, sexomania, workaholismo, etc.

A dificuldade da separação entre a compulsão “má” e a “boa” é que, paralelamente aos casos cabeludos de gente destruída pelas várias modalidades deste mal, há inúmeros casos de compulsivos que “dão certo” e são guindados ao topo do podium social. Exemplos é que não faltam, grandes cientistas ganhadores do prêmio Nobel, grandes solistas de música clássica, Einstein, Beethoven, Ayrton Senna, João Carlos Martins, Glenn Gould, Madre Tereza de Calcutá, Mahatma Ghandi, Michael Phelps, Michael Jackon, etc. No entanto, eles são, ou foram figuras compulsivas vítimas de elevado sofrimento psicológico.

Nesta altura do texto é imperativa a indagação: é possível que no contexto da nossa sociedade impessoalizante e altamente competitiva seja possível que uma pessoa não compulsiva chegue ao topo? A constatação é que, diante dos personagens “vencedores” acima, restaria aos "normais" se resignar sob o rótulo de fracassados.

Vejamos um exemplo atualíssimo e perturbador. Que chance teria a personagem Tessália Serighelli se não fosse a sua atuação compulsiva no Twitter sob o nickname de Twittess? Aquela que hoje sabemos tratar-se de uma mulher jovem, bonita e detentora de mais de 50.000 seguidores na rede, exibe um comportamento tipicamente compulsivo de quem aposta mundos e fundos no microblogging e... não é que deu certo?!! Ela virou uma celebridade instantânea! Entre polêmicas, tapas e beijos, a srta. Twittess gera pilhas de conteúdo que lhe rendem a 19ª posição entre os perfis brasileiros mais seguidos na atualidade, segundo o site TwitterCounter.

Resta-nos terminar com a instigante questão: é possível ter sucesso sem algum tipo de compulsão? Aparentemente só há lugar no podium dos vencedores aos compulsivos de carteirinha. Então, cabe aos comuns mortais a complexa tarefa de fazer uma triagem no seu time de compulsões com o objetivo de eliminar as deletérias e estimular somente aquelas responsáveis pela força impulsionadora dos grandes empreendimentos.

Ahh... e não esqueçamos que, se o caminho ao sucesso trouxer muito sofrimento psicológico, não valerá a pena trilhá-lo. Contudo, aí temos que entrar no assunto da renúncia, algo totalmente ininteligível para as personalidades compulsivas.
Por: Isaias Malta.

Referências:
Mal do Século? Autor: Fred Furtado. [Ciência Hoje, nº 260]
Sofrimento Psicológico. [Psicologia.com.pt]

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