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27 de jul. de 2009

Sou José Ribamar, o Inimigo público brasileiro da vez.

Meu nome é José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, mais conhecido como José Sarney, porque sou filho de meu pai Sarney. Atualmente sou o inimigo público número 1 brasileiro, assim como o foram Renan Calheiros, P. C. Farias, Rogério Magri, José Dirceu, Juiz Lalau, Severino Cavalcanti, Marcos Valério, Naji Nahas, Collor de Mello, João Alves, Sérgio Naya, Ricardo Fiúza, Roberto Jefferson, Georgina de Freitas, Salvatore Cacciola, Carlinhos Cachoeira e inúmeros outros.

Quando falei que a crise não era minha, mas do Senado, poderia ter sido mais ousado e dito que a crise é verdadeiramente do Brasil, que teima em se limitar a odiar o inimigo público da hora, esquecendo-se da máquina que permitiu tudo isto. Hoje sou a cara para bater, amanhã será outra e assim sucessivamente como tem sido.

As coisas que fiz foram dentro das regras vigentes e meus detratores não querem atacar o cerne da questão, porque esperam serem eles os próximos a usufruírem os privilégios. Assim como os inimigos públicos anteriores, vou terminar caindo e serei substituído por alguém, porque ninguém quer mexer nas mordomias do cargo e sim na pessoa que se desgasta e tem seu filme queimado.

Um dia voltarei a ser mais um Ribamar na várzea e serei esquecido, mais uma página virada da história e talvez um destes opositores atuais tenha ocupado o meu posto de inimigo público número 1. Mais um Judas a malhar, mais um desafeto popular a cair e o ciclo continuará como se tivessem resolvido todos os problemas da pátria.

Hoje me acusam de todos os crimes, já que represento a maldade boa de ser odiada, mas os pleiteadores a meus sucessores, longe de discutirem formas de moralização do cargo, querem-no intacto para si com todos os seus adoráveis penduricalhos. Assim, vão-se os anéis e permanecem os dedos das benesses do poder, pois sempre haverá um inimigo público de plantão a ser malhado e queimado. Até quando? Não sei, sou só um José Ribamar, apenas a bola da vez.

8 comentários:

  1. Legal é ver que o povo que ficou "revoltadíssimo" com tudo isso não se pronunciou.
    E, confesso, fui um dos que ficou revoltado. Realmente senti um murro na fuça com este texto.

    Parabéns por publicar. Precisamos de mais textos assim. =)

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  2. Bruno, realmente a figura do Zé Ribamar não me importa em absoluto, poderia indiferentemente ser Pedro, Manoel ou Renan, que a imprensa não se detém no assunto principal: o regramento iníquo que permite a geração permanente de escândalos.

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  3. Isaias,
    Postagem muito bem elaborada.
    Andei debatendo sobre o assunto. Teu texto me acrescentou muito.
    Se Ribamar sair...voltará, assim como tantos.
    Parece que há um procedimento padrão para os homens públicos desse país.
    Um abraço.

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  4. Guara, as aparências enganam na política, se caso oa pressão primeira fosse pela moralização da gestão no senado, certamente o Zé Ribamar acabaria saindo, mas não deixaria a cadeira vazia para outro super senador assumir as mordomias. Sempre se falou que a administração do Senado é uma caixa preta dominada por uma máfia de funcionários de carreira. Qualquer presidente que assume, se apropria das vantagens e ignora a máquina podre por trás delas.

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  5. Ouvimos a frase na rua e tentamos não engolir a sentença institucionalizada. "Eles são todos iguais", pragueja o povo anónimo, cansado, muito cansado, assentes num vértice recorrente: grupo económico, prejuízo do Estado.

    Não podemos aceitar que o povo anónimo tenha razão.

    Eles não podem ser todos iguais.

    Isso implica que eles vivam entrelaçados em manigâncias, lutas de poder. E dinheiro, muito dinheiro. Que não pensem em mais nada senão nisso. Que o seu espírito permaneça toldado por essa obsessão de fazer do Estado, do país, um servo dos seus interesses pessoais. Que a sua passagem por um cargo público não seja uma missão, mas uma comissão de serviço rotineira a caminho do próximo cargo, público ou privado, numa lógica ascendente que na maior parte dos casos é proporcionalmente inversa às habilitações profissionais ou de carácter.

    Eles não podem ser todos iguais porque nós ainda queremos acreditar que há gente séria a comandar o nosso destino colectivo, gente de que até não gostamos, mas gente que temos de suportar. Por ser a gente que nos calhou em sorte. Mas nós não temos sorte.

    Os vícios que eles partilham repetem-se. São, tragicamente, iguais.

    Eles não podem ser todos iguais.

    Para os optimistas profissionais, o pessimismo é uma das bases fundadoras da individualidade.

    Dizemos mal apenas para nos sentirmos bem, o escárnio é o nosso oxigénio. A culpa nunca é nossa, mas do sistema, do Estado, do Governo, dos políticos, da maldita economia, dos patrões sovinas, da meteorologia, da Igreja. A culpa é sempre dos outros.

    Quando, por algum motivo, se gera uma discussão a expensas de um determinado assunto (basicamente, os do costume: justiça, saúde, futebol, corrupção, criminalidade e, infelizmente com mais frequência, o desemprego) professamos invariavelmente a mesma doutrina: organize-se uma revolução, agitem-se as águas, mude-se tudo. Mas não o nosso comportamento.

    Isso nunca.

    Na verdade, geramos criaturas corruptas porque não queremos mudar. Pelo menos, uma parte considerável de nós. E quando ouvimos alguém, sobretudo alguém com responsabilidades, falar em mudar ouvimos sempre a mesma cantilena: urge repensar tudo e mais alguma coisa.

    Este raciocínio só não se torna mais perverso porque, na realidade, a vontade de mudar raramente passa disso.

    Temos de começar a perceber que temos de ser nós a tomar em mãos o próprio destino, de não resistir à tentação enraizada de delegar, ingenuamente, na arbitrariedade dos detentores do poder (em todas as suas formas) o futuro da nossa individualidade.

    De nada nos vale andarmos sempre a lamentar que, com gente como esta, não vamos a lado nenhum.

    Porque essa gente também somos nós.

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  6. Com a sua permissão. Outros tempos e outros governantes...

    Tributo a um grande homem.

    Manuel José de Arriaga Brum da Silveira e Peyrelongu

    8 Julho 1840 – 5 Março 1917

    Com esta mentalidade só tinha que ser um Grande Homem, senão veja-se a diferença para os governantes da actualidade, em qualquer país.


    Era oriundo de famílias aristocráticas e descendente de flamengos.
    O pai deixou de lhe pagar os estudos e deserdou-o.
    Trabalhou, dando lições de inglês para poder continuar o curso.
    Formou-se em Direito.
    Foi advogado, professor, escritor, político e deputado.
    Foi também vereador da Câmara Municipal de Lisboa.
    Foi reitor da Universidade de Coimbra.
    Foi Procurador-Geral da República.
    Passou cinquenta anos da sua vida a defender uma sociedade mais justa.
    Com 71 anos foi eleito Presidente da República.
    Disse na tomada de posse: "Estou aqui para servir o país. Seria incapaz de
    alguma vez me servir dele..."
    Recusou viver no Palácio de Belém, tendo escolhido uma modesta casa anexa a este.
    Pagou a renda da residência oficial e todo mobiliário do seu bolso.
    Recusou ajudas de custo, prescindiu do dinheiro para transportes, não quis secretário, nem protocolo e nem sequer Conselho de Estado.
    Foi aconselhado a comprar um automóvel para as deslocações, mas fez questão de o pagar também do seu bolso.

    Este SENHOR era Manuel de Arriaga e foi o primeiro Presidente da República Portuguesa.

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  7. Queira aceitar as minhas desculpas. Ás vezes, esqueço-me este é o pseudónimo entre vários que utilizo em Portugal. Se assim não fosse, teria inúmeros dissabores no minimo, a nível profissional.
    Reitero as minhas desculpas.

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