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20 de ago. de 2008

Ladrões do colarinho branco teriam devolvido o Picasso?

Nos filmes americanos, quando o vilão planeja o maior golpe da paróquia, é o Brasil seu pretendido destino final, um lugar onde ele vai poder gozar as mordomias que só o dinheiro pode oferecer, sem que ninguém lhe encha o saco. Já os ladrões tupiniquins, eles se dividem em duas categorias, a do colarinho branco, que ninguém enche o saco e o resto, constituído pela gentalha, a que é caçada e presa, ou seja, aquela a quem a polícia vive constantemente enchendo o saco.

A diferença entre elas é uma questão de atitude: enquanto os ladrões do colarinho branco jamais devolvem o produto dos seus roubos, os pés-de-chinelo que roubaram o desenho de Pablo Picasso “Minotauro, Bebedor e Mulheres”, devolveram-no são e salvo.

Ao pé-de-chinelo Algemas, ao colarinho branco, Desculpas!
O código de conduta vigente na comunidade dos ladrões quatrocentões segue outro rumo, pois, sob o beneplácito da proteção concedida pelo estado, se dá ao luxo de ser absolutamente predador.
Teoricamente no Brasil todos os ladrões são iguais perante a lei, até o momento em que os peixes graúdos são pegos pelas malhas do aparelho de repressão. Então o enquadramento sob as penas da lei sofre tantos atenuantes, que a polícia é compelida à pedir desculpas, por fustigar criminosos encastelados dentro dos meandros do poder. Enquanto isto, pequenos salafrários assaltantes de Pinacotecas recebem o peso do aparelho policial no local da sua moradia, ironicamente, uma favela denominada Paraisópolis, destoante do verdadeiro paraíso das grandes mansões estabelecidas no coração do plano piloto de Brasília.

O Minotauro, Bebedor e Mulheres devolvido em bom estado!
O Diretor da Pinacoteca manifesta surpresa quanto ao estado do quadro devolvido: “Aparentemente, o ‘Minotauro, Bebedor e Mulheres’ estava em bom estado. Até a moldura é a original, revelou Araújo.” Pena que o mesmo não possa ser dito dos bilhões de dólares que são roubados aqui e mandados para fora do país, que nunca foram devolvidos “em bom estado”, para que se transformassem em segurança, saúde, infra-estrutura, distribuição de renda para que os excluídos sociais não se transformassem em ladrões de Pinacotecas, etc.

Ao contrário da maioria da população brasileira que vê num Picasso um monte de rabiscos sem sentido, os ladrões da Estação Pinacoteca revelaram um senso artístico incomum e um respeito pela arte acima da média, pois devolveram a obra dentro da sua moldura original, cuidadosamente envolta em plástico de “bolinha”.

Uma Ilha da Fantasia, onde o STF funcionasse para o povo!
Caso fizéssemos um exercício de imaginação e supuséssemos que algum dos grandes ladrões blindados pelo fórum privilegiado concedido pelo Supremo Tribunal Federal tivesse roubado o tal desenho de Pablo Picasso, qual teria sido o desfecho da história? Certamente o pequeno rol de brasileiros apreciadores de Arte Contemporânea ficaria o resto da vida sem poder contemplar a gravura, pois este ladrão de colarinho branco teria agido da maneira peculiar aos bandidos de alta estirpe:

- teria conseguido um mandado de “habeas corpus” no Supremo para incorporar a obra à sua coleção particular;

- teria serelepe mandado a gravura para o exterior, de onde nunca mais ouviríamos notícias, assim como fizeram com os bilhões de dólares que roubaram sob as nossas fuças;

- num cenário fantástico de ilha da fantasia, onde houvesse um STF que permitisse o cumprimento da lei e o ladrão de alta casaca pudesse ser pressionado, ele certamente destruiria o quadro de Picasso sem a mínima compaixão, assim como some com os nossos bilhões em contas anônimas de paraísos fiscais.

Um agradecimento aos ladrões pé-de-chinelo "Honestos".
Então, a lição que fica, é que só nos resta a agradecer por termos ainda no país ladrões sem colarinho branco que se dignam a devolver intacto o produto do seu roubo, ainda mais quando o botim é patrimônio público. Esta é uma lição de moral que dificilmente será seguida pela casta de safados de alta estirpe que, acobertados pelo STF, jamais lhes ocorreria devolver qualquer produto de espoliação e, muito menos, um punhado de rabiscos ricamente emoldurados, que a grande maioria dos brasileiros, na sua indigência cultural, jamais conseguirá apreciar.

Link relacionado:
Picasso roubado da Pinacoteca é recuperado.

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