O funcionário chega ao seu escritório pontualmente atrasado como sempre, despende a meia hora regulamentar tomando cafezinho e se inteirando das fofocas do dia, até que finalmente senta na sua cadeira e liga o computador.
Esta história é repetida bilhões de vezes a cada dia, onde quer que haja trabalhadores tendo que encher 4 horas da linguiça do expediente da manhã, na expectativa mórbida de encher as horas da tarde interminável. Enquanto a rotina se espicha, a Internet lubrifica a normalidade, recortando uma pequena janela de novidade em meio à monotonia cinzenta do período “produtivo” da vida.
O reles funcionário senta então na sua cadeira cativa e liga o seu computador para dar uma fuçada aqui e ali, email, Orkut, Uêba, MSN, sacanagens, piadas, fotos engraçadas e vídeos gozados.
Mas aquele dia estava destinado a ser especial. O funcionário abre a sua caixa de emails e ele está VAZIO! Nenhum Spam, nenhum de Scaming de Burkina Faso, nenhum spoofing, nem sequer uma propagandinha de aumento de pênis e Viagra! Na caixa de entrada do Gmail, nem sombra daqueles amigos chatos que enviam 10 vezes os mesmos hoaxs enviados por ele próprio para o seu seleto grupo de vítimas amigas.
Assustado, o funcionário sai do Gmail e entra na página principal do oráculo dos nossos tempos, o Google. Ele usa o iGoogle configurado para mostrar as notícias principais, mas elas não estão lá, nenhuma notícia do dia. Então, ele digita uma pesquisa prosaica na caixa de pesquisa, a palavra “codidiano”, que normalmente dá 9.270.000 resultados. Porém, naquele dia, NADA!
Era como se o Google estivesse vazio, apesar de estar lá com tudo aparentemente funcionando. Só a fleumática mensagem “Sua pesquisa não encontrou nenhum documento correspondente”, sem dar código de erro 404, como se o conteúdo tivesse sumido. O funcionário ainda tentou encontrar vivalma no MSN e o resultado foi igualmente desalentador: nenhum dos seus contatos estava online. A lista deles continuava lá, mas tão inacessíveis quanto o Papa. Ele tentou o Orkut, o Skype, Yahoo, Live, Lycos, Altavista, Cadê, UOL... e nada.
A Internet, permanentemente invadida por hoax, vírus, trojans e trolhas de toda a natureza estava absolutamente limpa, limpa até demais, tanto que nada de bom restara também. Aí o funcionário compreendeu que o bem e o mal faziam parte de uma venda casada. Eles estava a ponto de desejar um spamzinho só para não acreditar numa tragédia maior.
Nada havia de errado com o computador, nem com a rede da empresa. O funcionário soube que todos os computadores estavam no mesmo pé – algo de muito grave acontecera – só restara a estrutura da Internet e nenhum conteúdo a lhe preencher os frames. Incontáveis petabytes haviam sumido dos Datafarms. Depois de tantos anos de reedição do hoax sobre o planeta Marte poder ser visto do tamanho da lua no dia 27 de agosto, não obstante, a Internet nunca conseguira gerar um ÚNICO hoax sobre O DIA DO FIM DA INTERNET!
A Internet fracassou em prever seu próprio fim, mesmo que tenha forjado “n” situações. Ela que criou a “coisa” usada na carne dos hamburguers do Mac Donalds, turbinou os males do aspartame ao ponto do envenenamento mortal, criou situações escabrosas dos carinhas que acordam sem rins em banheiras cheias de gelo, todavia foi completamente incompetente em criar um simples boatinho sobre o seu fim.
O funcionário, de repente, não tem o que fazer no seu sagrado expediente. À semelhança do chefe da propaganda da televisão, que compra um Ford Fusion e sai incontinenti em busca do lazer, enquanto os empregados ficam soltos na empresa como ratos em queijaria, ele ganha as ruas, onde se mistura ao mundo real, tão real como antes, como se nada tivesse acontecido.
Depois de caminhar a esmo alguns quarteirões, seus pulmões revigorados pelo negro-de- fumo da poluição urbana lhe produzem no cérebro uma certa sede. Aproveitando o dia mais “sui generis” da sua vida, ele entra num boteco e pede um martelo de cachaça moreninha, que lhe cai goela como se fosse o elixir do novo mundo. Só então que ele se dá conta da televisão ligada e distraidamente seus olhos são sugados pela tela. Nela, a cabeçorra do Dunga preenche a imagem em close-up, enquanto sua voz roufenha berra nos microfones algo sobre a inevitabilidade da derrota da seleção brasileira.
Só aí o funcionário se dá conta de que o mundo não havia acabado e que, talvez, a Internet tenha dado uma engasgada momentânea. Alegre com o bom augúrio das novas elucubrações, ele pede ao butequeiro um novo martelo de canha e o toma de um só golpe, antes que fosse necessário voltar à rotina, antes que a lucidez voltasse plenamente e ele percebesse que o fim do mundo havia sido adiado pela sétima vez este ano.
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