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7 de ago. de 2008

Usuários que não sabem mexer com computadores são burros?

Há quase duas décadas há um movimento de constante vulgarização da Internet no Brasil. As pessoas cada vez mais são impelidas ao confronto com computadores, terminais bancários eletrônicos e até os telefones, que se transformaram em pequenos computadores de bolso.

Paralelamente a toda esta revolução tecnológica, as pessoas continuam a enfrentar problemas básicos. Vejam aqui o caso de uma leitura deste blog, que deixou registrado os seus problemas para escrever seu comentário:

“Uh, oh... Sim, sou eu. Com um pequeno problema com esta máquina, o qual eu me recuso a chamar de "burrice". Digamos, resistência, aliada a alguma deficiência na comunicação.”

Aliando as qualidades adquiridas da minha formação em Pedagogia, àquelas de vários cursos em informática e da vivência Nerd em software e hardware, me pergunto: será que a situação pode ser explicada como um problema de burrice?

Definitivamente não posso concordar com a leitora. Não pode ser uma questão de burrice porque vejo pessoas, mesmo com doutoramento, empacar diante de problemas informáticos triviais. Podemos dizer que tais usuários dotados de QIs extraordinários são burros?

Curioso com o tema resolvi apelar para o oráculo do Google, digitando uma procura com as seguintes palavras-chave “aptidão para computadores”. Bingo! Achei o texto que completou as minhas elocubrações: "Sem preconceitos contra usuários inexperientes", de Mercedes Sanches.

O texto defende a tese de que não existe usuário burro, os problemas acontecem pela inexperiência e negligência das empresas em criar interfaces realmente customizadas para o usuário não informata. Vou mais além, ao propor que a experiência com computadores não redunda automaticamente em usuários mais informaticamente inteligentes. Após anos de convívio com as ferramentas tecnológicas, a maioria dos usuários continua a se debater com problemas irrisórios:

- o que fazer diante das mensagens de erro do Windows, como se situar na topografia da Internet, dominar a lógica heurística dos sistemas de busca;
- ter uma idéia global dos problemas de segurança, que envolve minimamente o entendimento do mecanismo de funcionamento de vírus, trojans, spywares, rootkits, backdoors, keyloggers, etc.;
- para se ter uma pálida idéia das dificuldades que o usuário “burro” deve vencer para superar esta rotulagem, uma pecha terminantemente recusada pela leitora, poderia ser dada por um pequeno glossário feito de sopa de letrinhas: PHP, hype, geek, P2P, TCP, UDP, viral, fake, nerd, gadget, meme, bot, malware, feed, twiter, IP, worm, HTML, Java, script, SQL, etc.;

- nem falarei das dificuldades de hardware, que por mais plug-and-play sejam os equipamentos, cada vez aumenta mais a complicação de ligar impressoras, câmeras, leitoras de cartões, pendrives, monitores, HDs, memórias e toda a tralha que o consumismo consegue inventar.

Ufa! Depois de tudo isto, não se pode exigir que os usuários dominem esta parafernália para provar sua inteligência. As pessoas que conseguem dominar este tipo de coisa já nascem com uma inteligência especificamente voltada para a manipulação de aparatos tecnológicos. Para que o abismo existente entre 6 dúzia de Nerds fuçadores de computadores e o mundo real dos usuários não-nerds não fique restrita ao dualismo entre inteligentes versus burros, temos que admitir que não existe uma inteligência única, que a exemplo de Leonardo Da Vinci, abarque todas as aptidões.

Para solucionar a miopia unicista do conceito de inteligência, partiu-se para a compreensão da divisão da inteligência em inteligências. Somente quando se fala de inteligências múltiplas é que se pode compreender que diferentes pessoas, independentemente da idade, vão ter dificuldades com a tecnologia pelo resto das suas vidas. Os “burros” tecnológicos têm imprimido nos genes alguma limitação que os impede de apreender em profundidade a lógica da heurística digital.

Portanto, a resposta final ao desabafo da minha leitora é que há duas noticias para ela, uma boa e outra má. Vamos começar pela má, como usualmente as pessoas preferem: cara leitora, você pode perder as esperanças de chegar a dominar uma heurística que não pertence ao rol de aptidões de qualquer das suas inteligências múltiplas.
A boa notícia é que, com certeza você não é burra.

9 comentários:

  1. Meu caro Isaías,
    sinto te decepcionar, mas em momento algum eu pensei que era burra por não dominar o manuseio "desta máquina"... Você, com a sua formação na área de pedagogia, sabe que a aprendizagem só se efetua a partir do desejo. Meu desejo, neste setor, sempre esteve mais voltado para o de ter sempre alguém por perto pra fazer por mim o que eu não sabia. (Brunooooo!)

    Parece que aconteceu - de novo - um problema na comunicação. O que eu disse foi exatamente que "eu discordo de chamar de burrice". O uso do pronome "o qual" em vez de "que" foi uma tentativa de evitar a ambigüidade que este causaria com a última palavra da primeira oração, "máquina", que é feminina. Assim, o objeto direto do verbo chamar é obrigatoriamente: problema. (Particularmente, eu detesto "o qual, a qual"...).

    Como deve ter dado para perceber, realmente as minhas inteligências estão voltadas para outras áreas, chamadas humanas. Daí que quando o texto chegou no ponto daquele monte de siglas, realmente o que eu entendi melhor mesmo foi: "sopa de letrinhas".

    A má notícia é que a curiosidade me fez clicar na palavra azul ( e isso deve ter um nome): "heurística", mas... nada.

    A boa notícia é que parece que nós concordamos que "empacar diante de problemas informáticos triviais não é uma questão de burrice. Ufa!

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  2. Bingo, a palavra azul estava com problemas no link. A questão abordada no artigo acontece com a minha esposa: qualquer coisa ela prende o grito "Isaiiiiaaaaas!" E lá vou eu lembra-la de que é a 3ª vez que eu explico. Não que eu seja capaz de dar o LOG das datas, mas tenho a estranha mania de me lembrar de quantas vezes explico a mesma coisa para a mesma pessoa.
    Minha esposa é muito mais inteligente do que eu, porém, em assuntos de heurística digital ela é segue o desvio padrão da maioria, apesar de destoar da maioria dos usuários, mais representativa estatisticamente (por seu despojamento cognoscente).
    O locus de excelência dela é a área biológica, taxonômica, reconhecimento de padrões, precisão semântica, aguçado senso semiótico, etc, agudizado pelo imperativo do seu doutoramento na Universidade Federal.
    Porém, a sopa de letrinhas para ela é tão indigesta, quanto para a grande maioria dos internautas.
    Então, eis o grande dilema pedagógico: como possibilitar aos humanos não-nerds o usufruto das benécias que para nós nerds é a quintessência do prazer?
    Não que seja prazer para todo mundo, mas conseguir operar o maquinário que nos empurram goela abaixo é no mínimo gratificante e habilitante. Porque habilita o cidadão ao estado da arte da sua era.
    Vi todo este debate sintetizado num site, http://ueba.com.br que realiza aquilo que eu mais sonho, ele abriu um canal com o usuário comum, por intermédio de um mix de links variados voltados para o mundo real não-nerd.
    No final de tudo, ponto para você Maristela, que apontou um erro de linkagem aqui no blog! Apesar dos ruídos entrópicos de comunicação, eis que você me surpreende e me gratifica por sua perspicácia. Parabéns! A sua curiosidade é o motivo que me prova que a luta não é inglória, apesar de renhida.

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  3. Mamãe está mais rápida que eu, veja só que coisa...

    Burrice, nem pensar. Aliás, o conceito de burrice é complicado, porque o que parece óbvio pra uns é totalmente obscuro pra outros. Cada qual com sua área, e todo mundo feliz, pois sim?

    Mas então, o que fazer, o que fazer... sou contra a idéia de nivelar por baixo. Mas não, não tenho uma solução real. Gosto do método socrático: instigar o leigo a buscar o conhecimento por meio de metafóricas alfinetadas. Aliás, paro por aqui, porque planejo postar mais a respeito. Não quero estragar a surpresa...

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  4. Só porque uma pesso tem algum curso não quer dizer q ela é inteligente ou q tem um QI elevado. Para mim são burros e burras mesmo os q não sabem usar um simples computador.

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  5. A metáfora à burrice que uso é no sentido de lançar desafios às pessoas. A realidade é que a pessoa humana, por mais desprovida que seja de luzes intelectuais, possui a potencialidade maravilhosa da inteligência, distinguidora do homem do resto dos animais.
    Eu defendo justamente o contrário, mesmo quem não se dá bem de jeito nenhum com os computadores, tem dentro do conceito de inteligências múltiplas, vastos campos de exploração que compensam qualquer deficiência cibernética.
    Estas discussões quase sempre extrapolam para o plano metafísico.

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  6. Essa mesma dificuldade que eu não tenho com coisas eltronicas e com informática, eu absurdamente tenho com linguistica. o coisinha complexa do "cão". acho que sou "burro" em portugues, mesmo sendo um eximio programador, e muito bom em matemática, não consigo enterder conjugações nem frases, nem nenhuma linguaguem que não seja uma gramática formal. e esse texto que escrevi esta cheio de erros, que nem sei que existem, pois não vejo nenhum erro. não da para ser bom em todas as areas da inteligencia. estou fadado a ser péssimo escritor e comunicador. por isso, eu entendo a angustia das pessoas que usam maquinas, é a mesma angustia que tenho ao usar o portugues e ter que escrever textos, no geral eu nem converso muito, so fico lendo e ouvindo, é mais facil.

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  7. Você conseguiu realizar uma operação bastante difícil, se colocar no lugar do outro. Sob o prisma das inteligências múltiplas é difícil alguém ter excelência em muitas áreas.

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  8. Entao se existem pessoas que nao conseguem de forma alguma dominar ou sequer usar as novas tecnologias, computadores, smartphones, tablets etc... entao essas mesmas pessoas tambem tem algum bloqueio na memoria voltado apenas para informatica? eu realmente gosto de TI mas nao estou muito satisfeito em trabalhar nessa area, pq cada dia eu fico mais abismado com as pessoas nao conseguirem nem mesmo decorar um simples caminho nos diretorios do rwindows! Essas pessoas a quem me refiro nao sao de uma unica classe social e/ou economica, algumas PRECISAM, do computador pra trabalhar e nao sabem nem se quer o que e windows, Sistema Operacional, Microsoft word sendo que todos os dias elas usam os mesmos. Talvez um pouco de DIFICULDADE seria aceitavel, mas a esse ponto nao, isso pode nao ser burrice, e pior do que isso, e falta de interesse em querer aprender. Tem o ditado que diz que o pior cego e aquele que nao quer enxergar. Eu digo que o pior burro e aquele que nao quer aprender.(teclado desconfigurado, to usando um sistema em modo live)

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  9. Respondendo a pergunta do título: Talvez. Mais burro ainda é o sujeito que se atreve a querer usar um computador sem ao menos saber o BÁSICO de Informática.

    O resultado: fazem um simples apertar de Enter no teclado parecer coisa pra Ph.d em Ciências da Computação.

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