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20 de ago. de 2008

Vivendo em ilhas na solidão dos gadgets.

O que leva as pessoas a se refugiar no entretenimento solitário dos seus gadgets eletrônicos?
Os animais sociais que perambulam pelas ruas, escafedem-se cada vez mais do convívio, abdicando da sua natural sociabilidade flagrada por Aristóteles, se convertendo em seres taciturnos que se ensimesmam nos grandes espaços urbanos.

Num belo texto publicado no Yahoo!Posts, o editor Pedro Jansen, manifesta preocupações com a tendência isolacionista cada vez maior, presenciada nas grandes cidades. Parece que quanto mais milhões de semelhantes você tem ao seu redor, mais você se fecha para o mundo interelacional, renunciando de vez ao contato afetivo do olhar e do carinho da disponibilidade.

Pela minha parte, há muito que venho filosofando sobre o assunto, até que me deparei com a radicalização do fenômeno na Europa. Foi somente lá, numa sociedade pós-industrial, que percebi o quanto a nossa urbanidade ainda não assumiu os sinistros contornos da impessoalidade alastrante. Mesmo assim, caminhamos a passos largos para nos igualar a eles no status de indivíduos ilhados pela solidão.

Não há como negar que o uso intenso dos gadgets: Ipods, notebooks, mp3, mp4, etc, é uma das formas de construção de muros de privacidade, num mundo em que o privado se tornou produto altamente vendável em “reality” shows de televisão. Assim, atiçado pela provocação do Jansen, saí à cata na Internet de um texto que aliasse pós-modernidade e solidão e bati em cheio com o que procurava:

As pessoas, ao invés de viverem a solidão existencial, preferem senti-la de uma maneira mais vaga e branda, que é longe da solidão retratada em prosa e verso pelos artistas através dos tempos. Isto porque, no enfrentamento da solidão existencial, o sujeito não precisa fugir nem de si, nem dos sentimentos desagradáveis. A temática do sofrimento existencial versa predominantemente sobre o significado da vida, que favorece a separação entre ilusão e realidade.

Certamente, que quando a solidão existencial cede lugar à sua contraparte difusa, ela se incorpora num mecanismo de tédio e fascinação presente nos gadgets. Assim, a solidão urbana, ao se transfigurar em patologia crônica de fuga, abrange não apenas o sentimento de estar só, mas também a sensação terrificante de desamparo pessoal e social. A compulsão do uso permanente de aparelhinhos transmissores de sons e imagens se integra na grande síndrome causada pela paradoxal situação de se estar só no meio de milhões de pessoas. No entanto, este é um sentimento que jamais vai assaltar alguém vivendo isolado nos confins do deserto Saara.

Fontes
A solidão, enquanto um espaço de reflexão e liberdade, parece cada vez mais distante de nós.
Cada um na sua ilha.

Um comentário:

  1. Considero que estas ilhas são o fruto de duas situações. O consumismo como ponto de partida e a trágica forma da fuga do seu " eu ". Terá retrocesso? Não tenho a resposta. Questiono apenas.....

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