Nos anos 50, o visionário Dr. Von Braun publicou uma série de artigos na revista Collier detalhando a sua visão sobre a exploração do espaço, ilustrada pelo artista Chesley Bonestell. Entre os conceitos esboçados, havia uma versão de uma estação espacial em forma de roda, servida por uma espaçonave reutilizável, semelhante ao ônibus atual espacial americano Atlantis.
Enquanto a tecnologia não “decolava” o suficiente para tornar realidade os sonhos de Von Braun, a ficção científica tratou de trazer a lume a sua própria versão. Em 1968 foi lançado nos cinemas um filme que marcou definitivamente a história da FC: 2001 Uma Odisséia no Espaço do diretor Stanley Kubrik, com roteiro baseado na novela homônima de Arthur Clark. No filme, ressurge com toda a pompa e circunstância a visão de Von Braun, turbinada pelas novas aquisições tecnológicas ocorridas ao longo de quase duas décadas.
O ônibus espacial que serve a Estação Espacial V pertence, curiosamente, à extinta Pan AM. Trata-se da aeronave Clipper que perfaz a linha terra-espaço em vôos regulares, como se fosse um avião de passageiros. No duelo entre a realidade de hoje e a fantasia do filme 2001, a ficção continua ganhando: a atual estação espacial internacional é pequena, acanhada e não há qualquer possibilidade técnica de produção de gravidade artificial como no filme.
De 1968 até hoje, não se realizou o sonho da facilidade da viagem ao espaço. Ao invés das naves que decolam elegantemente de pistas de espaço portos, foguetes perigosos e pesadões ainda são necessários para vencer a gravidade terrestre. Contrariando a previsão das viagens interplanetárias, as missões espaciais tripuladas para outros planetas cessaram em dezembro de 1972, quando da última visita à lua perpetrada pelo projeto Apollo 17.
O toque realístico do filme de Kubrik fica por conta da aparência da Estação Espacial V: ela está em construção, um projeto possivelmente começado anos antes de 2001. A realidade deve mais uma vez à fantasia – colônias espaciais habitando grandes estações em formato de rodas girantes continuam a ser idéias impossíveis no curto prazo.
O exercício futurista criado em 1968, como um último esforço para combater as distopias emergentes, não calculou que os avanços tecnológicos havidos nos primórdios da era espacial não manteriam o mesmo fôlego dos primeiros anos. A guerra fria não tardaria a monopolizar os orçamentos das superpotências, que depois de se embaterem na conquista do espaço, trataram de brigar por posições na dura realidade terráquea do nosso pequeno mundinho.
Será possível no futuro a produção de gravidade artificial através da força centrípeta gerada pelo movimento de rotação de uma gigantesca estação espacial giratória? A face do nosso futuro está na dependência das escolhas que os líderes internacionais fizerem: ou a escalada militarista continua aumentando, o que resultará em distopias do tipo Matrix, ou a humanidade aprende que o preço a pagar pela realização das utopias é a escolha definitiva da paz.
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