Páginas

Pesquisar

10 de out. de 2008

Um guia prático para você reconhecer os filmes genuinamente Cyberpunk.

Você que gosta de filmes de ficção científica, o que acha do gênero Cyberpunk? Quem gosta deste estilo, infelizmente encontra poucas informações para diferenciar os filmes puramente Ficção Científica, dos puro-sangue Cyberpunk.

Conceito Cyberpank: é um gênero estético nascido dos exercícios literários de futurologia sobre os aspectos negativos da interação entre seres humanos e tecnologia.

Apesar de muitos considerarem o movimento cyperpunk extinto ainda nos anos 80, ele está mais vivo do que nunca. Não obstante, é preciso estabelecer critérios para o reconhecimento das suas manifestações.

Impactos negativos do tecnicismo sobre o humanismo:
num dos futuros possíveis, ante o risco eminente dos aparatos tecnológicos assumirem abruptamente o controle das mediações sociais, são criados reinos anti-utópicos de domínio das máquinas sobre os humanos. O tema da civilização humana sob o poder das máquinas, além de comum na literatura cyberpunk, é um elemento indispensável no reconhecimento das obras – as civilizações pós-apocalípticas que se debatem no crime e na droga, tal qual acontece no Filme Nirvana, ou no pós-guerra mundial entre máquinas e humanos do filme Matrix.

Exemplo: a realidade do filme Nirvana é pintada como um mundo dominado pelas drogas e tipos esquizóides baseados no looking dos consumidores de drogas.

Fusão entre humanos e máquinas:
a ambigüidade entre ciborgues, programas “conscientes” e robôs, cria a nebulosidade necessária para ofuscar as diferenças entre humanos e humanóides. O lusco-fusco da fusão entre homem e máquina acontece entre o extremo dos filmes japoneses em que a união é invasiva, até abordagens mais suaves, onde os programas passam a assumir papeis tradicionalmente desempenhados por humanos.
A integração forçada homem-máquina implica em distorções percepcionais da realidade – muitas histórias exploram tais conflitos, criando uma dicotomia entre mundos, o virtual-mecânico contrapondo-se ao real-humano. O filme mais característico da dicotomização do real é Matrix, apesar da temática não ser uma novidade no mundo Cyberpunk, pois os filmes 13º andar e Tron, entre outros, exploram a mesma vertente.
Cena antológica do filme 13º andar, quando o personagem se dá conta que ele é um personagem do jogo, ao chegar ao fim do seu mundo, ele se depara com uma trama de outlines, como se fosse uma paisagem sem renderização de Autocad.

Controle corporativo sobre a sociedade – um derivativo da teoria da conspiração: é freqüente o aparecimento de uma entidade de caráter absolutista, algumas vezes representada por uma corporação, outras por um governo. O temática das corporações de desenvolve num clima de futuro anti-utópico, onde os últimos traços de civilização ficam reservados ao intramuros de cidades protegidas, porém sem a permissão de direitos civis, que são solapados em nome da auto-preservação do da espécie humana.

Ambientes underground:
enquanto a elite dirigente guardiã da civilização preservada, vive protegida por fortes esquemas de vigilância, ao oprimido resta o refúgio em subterrâneos, onde vive à margem tanto dos bens civilizatórios, como do controle exercido sobre os cidadãos da superfície.

Exemplo: é a realidade de Metrópolis, o pioneiro dos filmes cyperpunk. Os operários trabalham e moram nos subterrâneos da cidade.

Temática comunicacional:
é uma das temáticas mais caras ao gênero cyberpunk, o fluxo de informações, suas interações e suas interferências na vida real, fornecem o espaço ideal para que hackers e piratas de redes se movimentem. As conexões entre os seres humanos e as redes provocam a deformação da realidade, condição necessária para a revogação das distinções entre virtual e verdadeiro.

Os filmes Matrix I, Tron e 13º Andar têm suas locações quase que exclusivamente em mundos virtuais, criados pela disrupção massiva de dados informacionais no espaço exclusivamente orgânico dos humanos.
Personagem humano sendo desintegrado pelo computador, para posterior reconstituição do seu corpo na realidade virtual comparilhada pelos programas.

Visual e estilo:
o visual cyberpunk costuma apresentar características que oscilam entre o sombrio e o hiper-realismo, como no caso do filme Blade Runner, que é uma síntese perfeita do estilo Cyberpunk. A fotografia pode ser eventualmente dominada por uma cor preponderante, contrastando detalhes berrantes de néon contra fundos extremamente escuros.
O cenário de futurismo sombrio de Blade Runner, contrastando com elementos em néon, exemplifica perfeitamente o estilo legitimamente Cyberpunk.

A filosofia por trás do conceito:
O conceito Cyberpunk ao carecer de rigor filosófico, tende a ser enquadrado como um sistema estético, mais sujeito à mobilidade das apreciações subjetivas, do que às reflexões teóricas. Isto não impede as tentativas de se fazer distinções entre as produções meramente interessantes e aquelas legitimamente cyberpunk. Como tudo nas ciências humanas, a inexatidão e a variabilidade não podem servir de pretexto para a renúncia a qualquer rigor classificatório.

Assim, os critérios aqui expostos podem fornecer subsídios para que os cultuadores do estilo possam reconhecer as produções que atingem os requisitos daquilo que a maioria de nós aceita como realmente pertencentes ao gênero Cyberpunk.

Fonte: What is Cyberpunk?

Relação de Filmes Cyberpunk por décadas.

3 comentários:

  1. Se existe um tipo de ficção científica que se aproxima da realidade, este é o cyberpunk. As corporações já existem dentro da sociedade desde que surgiu a "Revolução Industrial" e as pessoas são controladas e condicionadas a serem dóceis e iludidas dentro de um sistema que lhes dá abrigo, mas lhes cobra uma lealdade incondicional. Aproveito para sugerir aqui dois títulos de livros cyberpunk famosos, escritos já há muitas décadas: Admirável mundo novo (Aldous Huxley) e 1984 (Gerge Orwell). O segundo eu ainda não li, mas o primeiro fala de uma época em que a civilização compunha-se de uma sociedade dividida em cinco castas diferentes, onde as pessoas já eram, desde o estado fetal, manipuladas e condicionadas, afim de assumirem o seu papel social. Nessa sociedade foi criado o SOMA, a droga oficial do Estado que substituiu o cigarro, as bebidas alcòolicas e qualquer outra droga que tenha existido até então. Sexo era liberado para todos, inclusive para as crianças que começavam a praticá-lo aos cinco anos de idade. Não havia mais o conceito de família, pois todos os cidadãos eram propriedade do Estado e somente os que pertenciam às castas superiores (os Alfas) é que conheciam a verdade sobre a engenharia social daquele mundo que eles controlavam. E nós? Será que não estamos caminhando para uma realidade assim? Deixo aqui, também, um endereço de uma página que fala sobre a sociedade de controle que já existe nos nossos dias. Leia o artigo do site e analise se você também não é controlado pelo sistema. Acesse: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/sociedade%20disciplinar/index.htm

    ResponderExcluir
  2. Belíssimo adendo! Eu li o 1984 e o considero um dos melhores livros de todos os tempos. Uma parte do futuro sombrio de Orwell se realizou, na forma da desintegração do espaço privado através de câmeras e toda a sorte de aparatos eletrônicos para espionar o cidadão. Quando isto é feito por governos sadios contra indivíduos maléficos, é uma boa coisa. O contrário vira o pesadelo de Big Brother social, pois foi George Orwell o autor intelectual do BB que a empresa Endemol explora globalmente.

    ResponderExcluir
  3. é sério? Ninguém nem citou o livro Neuromancer, de William Gibson?
    Esse livro além de ser um dos criadores do cyberpunk, ainda preveu o mundo que seria hoje, de hackers e firewalls, no ano de 1983!Além do mais genuíno dos livros cyberpunk, ainda com certeza á o melhor do gênero.Quem curte cyberpunk é obrigado a ler esse livro, pois ele veio antes de Tron, Matrix, 13 andar e com certeza de Nirvana, que é um filme que copia explicitamente o Neuromancer, além de nem ser um filme tão legal.No gênero cyberpunk, o que curto mais são as coisas sombrias de uma sociedade gigantesca, as metrópoles sombrias e enormes.

    ResponderExcluir