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3 de out. de 2008

Pra não dizer que não falei de flores e eleições.

Quando leio o Töpo falando em voto nulo não dá nenhuma vontade de falar em política. Talvez porque o sonho tenha morrido com John Lenon.
A nossa democracia compulsiva de 2 em 2 anos – que nos obriga a votar com alegria – para dar emprego a políticos desempregados, me lembra estranhamente Geraldo Vandré:

Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção...

Anos atrás caminhávamos seguindo a canção. Hoje ela se transformou em funk e os nossos jovens já não acreditam mais em poder mudar o mundo, já que ele foi tomado de assalto pelos políticos corruptos que cansamos de eleger.

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...

Vamos, vamos embora, depois de ter amargado a obrigação de votar livremente, mas com a certeza de que não faremos a hora e nem esperaremos acontecer

Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão...

O canhão dos militares enferrujou e nem sequer o caveirão consegue subir a favela. Continua a fome nas grandes plantações, mas as ruas não têm cordões – todos se ausentaram sob o toque de recolher da escassez de políticas públicas. Quem acabou vencendo afinal, foi o canhão.

Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão...

Os soldados armados querem que votemos livremente, sem que tenhamos que fotografar o nosso voto e levá-lo ao miliciano. Foi a pátria que morreu agonizando nas nossas mãos, asfixiada pela leniência dos políticos que nos tiraram a razão.

Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição...

Faz diferença anular, justificar ou votar conscientemente? Uma certeza sobreviveu na longa trajetória democrática rumo à noite da descrença: ninguém mais caminha ou canta no dia das eleições – pois ao cabo de três meses de chateação da propaganda política e das infames propagandas do TRE – todos saem chumbados das urnas, não com a certeza do dever cívico cumprido, mas sob os eflúvios de uma alegria difusa do fim da tortura, pelo menos até o ano que vem.

Um comentário:

  1. Por mais incrível que o pareça, sustento a impressão de que a democracia nesse país está ruindo sobre si mesma. E isso em um país que praticamente acaba de sair de uma ditadura é simplesmente alarmante... Não é fácil dizer de quem é a culpa, se é do povo que não toma o poder ou do governo que não ajuda.

    E acho que é apropriado comentar que o pessimismo de Töpo Talpos deve ser, figurativamente falando, "tomado com um grão de sal". Ou de açúcar, no caso.

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