30 de mai. de 2008
Envelhecer é brincar como criança?
A campanha do HSBC Seguros que está sendo veiculada nas principais Redes de Televisão trabalha um jargão bastante conhecido: o conceito de que não importando a idade, o espírito deve permanecer jovem.
Ao longo do vídeo um grupo de velhinhos brincam de bater na porta dos outros e sumir, lutam com espadinhas de madeira, brincam de cabra-cega, jogam bolinhas de gude, jogam uns nos outros bexiguinhas de água, empinam papagaios e o vídeo termina com duas velhinhas pulando em cima de poças de água. A última cena termina com uma frase emblemática “O futuro pode ser a melhor fase da sua vida, faça um plano de previdência do HSBC.”
Será? Será que a felicidade futura prometida pelo banco é a imbecilização? Eu jamais concordei com a máxima de “ter a cabeça jovem” em corpo de velho. Ora, o melhor dos jovens não é a cabeça, é o corpo, isso porque são eles que mais erram por terem menos experiência. O ideal não seria o inverso, corpo jovem em cabeça velha?
Tais perguntas não podem calar. Cada vez que vejo a propaganda do HSBC, me pergunto se aqueles pobres velhinhos não brincam como crianças por conta das falhas de uma sociedade que não trata a pessoa humana como em toda a sua trajetória existencial. Mal e porcamente há um sistema educacional a fornecer um mínimo de instrução formal para crianças e jovens, mas o adulto nunca é preparado para o porvir, apesar dele um dia chegar fatalmente à velhice.
O banco não mostra uma realidade diferente porque ela não existe – velhos aprendendo a dançar, tocando piano, pintando quadros, declamando poemas, enfim, tendo vidas plenas e prenhes de criatividade, preenchendo os “melhores” anos das suas vidas com atividades que façam realmente valer o lema de todas as idades: fazer o que se gosta e o que dá prazer.
O comercial do HSBC não é ruim porque ele é a expressão da realidade da velhice abandonada, que se imbeciliza e regride nas suas faculdades intelectuais, por causa de uma sociedade que nunca os preparou para manter o viço do corpo e saúde da mente, cuja maior virtude é ser velha, mas sem nunca perder a capacidade de criar.
Mídia, velhice, projeto de vida, sistema educacional
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Já leu Ócio criativo - Domenico di Masi. Bem, eu ainda não li, mas indico. Seria um bom livro pra dividir com você. Ele trata com uma visão otimista o fim dos empregos e nesta visão enquadramos o ser humano como um ser educado para ter na fase adulta o trabalho como única atividade da vida e que a perca do seu emprego (do tempo trablhando) o levaria a acreditar que ele já não serve pra nada. Alguns idosos se sentem assim.E é uma pena, tendo em vista o aumento de nossas perspectivas de vida e o ócio que ganhamo no final desta. A sociedade deveria nos educar para um ócio criativo, não só para quando perdermos o emprego ou chegarmos a velhice, mas para que aproveitemos de forma menos banal o tempo que temos de sobra na juventude.
ResponderExcluirAinda vou pintar um quadro, escrever um livro, já plantei muitas árvores e talvez se daqui a alguns anos exista alguém que me compreenda e que possa me dar essa felicidade, terei filhos que saberão usar seu tempo com atividades inteligentes e criativas.
Um beijo
Não li, mas já me falaram. Quanto à frase "talvez a alguns anos alguém me que compreenda..." me soou totalmente misteriosa. Será a tão famosa densidade das poetizas?
ResponderExcluirVocê tem o requisito básico dos escritores: o conflito, a não satisfação com a auto ignorância e um espírito tremendamente indômito.
Só conheço pessoas resolvidas entre aquelas que nada escrevem.
Um beijo.