17 de mai. de 2008
Qual é a origem do termo Idade das Trevas?
O termo “Idade das Trevas” pode ter sido cunhado pelo poeta medieval Francesco Petrarca, que se referiu aos séculos anteriores com “tenebrae”, posteriormente modificada para o termo consagrado até hoje. Mas, independentemente do qualificativo, os historiadores que se debruçaram sobre o período compreendido entre o fim do Império Romano e a queda de Constantinopla, mormente têm a tendência de definir o período como uma passagem entre duas eras de reconhecido valor. Portanto, entre os esplendores da Antiguidade Clássica e o reaparecimento da razão como medida de todas as coisas no alvorecer da modernidade, consagrou-se a visão de um tempo de passagem, tempo médio ou media temporum.
A visão predominante sobre a idade média foi fomentada, entre outras coisas, pela necessidade de marcar o forte contraste entre as novas luzes recém surgidas e o lusco-fusco que se presume ter existido ao longo de séculos de dominação do poder secular da Igreja. Então, como que para estabelecer um divisor de águas entre o período isolado e grosseiro e de estagnação do pensamento e da ciência e o retorno ao cultivo dos ideais gregos prometido pelo renascimento, criou-se o mito do hiato separando radicalmente a gloriosa antiguidade e o novo espocar das luzes do pensamento. Certamente que o movimento de repúdio e preconceito contra a Idade Média deve muito a séculos de barbárie religiosa, ainda mais que recém se estavam extinguindo os últimos braseiros das fogueiras inquisitoriais.
Atualmente se torna absurdo continuar reafirmando esse viés preconceituoso. As escolas não deveriam libertar os alunos do estereotipo da idade das trevas, provando-lhes que não pode se admitir racionalmente a possibilidade de haver um milênio sem conquistas importantes para a civilização. Onde fica o valor de obras literárias e artísticas do porte de uma Divina Comédia de Dante Alighieri, ou o reconhecimento de que foi na idade média que foi lançada a pedra fundamental da química moderna? Além disso, o conceito de Universidades como centros autônomos do saber, surgiu no período medieval.
Um dos maiores obstáculos para a compreensão da Idade Média é o arraigado preconceito cultivado ao longo dos séculos da modernidade, estimulado por reducionismos e julgamentos que são alimentados pela pesquisa histórica baseada em fatos que corroboram o preconceito inicial renascentista. Um dois exemplos mais populares deste fenômeno pode ser encontrado no best-seller“O Nome da Rosa” de Umberto Eco. Ambientado num mosteiro beneditino do século XIV, o romance apresenta uma ambiência estereotipada da Idade Média ao escolher elementos que se fundamentam naquilo que se supõe ter sido a base do espírito medieval: credulidade, superstição e obscurantismo. Mesmo se tratando de texto ficcional, não muda a figura do problema. A cena final do incêndio na biblioteca é emblemático; se por um lado mostra ao leitor um obscurantismo intolerável capaz de queimar livros em nome da credulidade barata, por outro embaralha o fato de que se não fosse pela obra de milhares de monges copistas, toda a obra dos autores e filósofos antigos não teria chegado até os dias de hoje.
História, idade média, Dante Alighieri, biblioteca, pesquisa
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