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11 de mai. de 2008

O que diferencia a ciência da não-ciência?

Aqui, devido à exigüidade do espaço e à proposta leve e ligeira do blog, abordarei informalmente alguns aspectos que diferenciam a ciência da não-ciência.
O conhecimento originado da experimentação direta (experiência empírica), ou de senso-comum (as coisas que funcionam quando aplicadas, mas que não podem ser explicadas), está fora da ciência porque não possui os requisitos de aceitação pela comunidade científica.

O conhecimento não-científico tem algumas características:

- Não é facilmente reproduzível: ou seja, não é possível a escolha um método para a sua obtenção. Portanto, não é um conhecimento intercambiável entre os diversos elementos da comunidade de pesquisadores.
Exemplo: A grande polêmica que se arrasta até hoje em torno da homeopatia é justamente a dificuldade da sua replicabilidade. A produção homeopática não é totalmente sistematizada, já que para transmitir a “memória” do princípio ativo à água, não basta fazer as dinamizações determinadas. As investigações sobre a validade dos princípios homeopáticos realizados em laboratório produzem os mesmos resultados erráticos dos placebos. Logo, nem todas as etapas do processo empregado na produção dos remédios homeopáticos é metododizável – o que tornou impossível até agora a comprovação do princípio da “memória da água”.

- Jamais alcança o grau de generalização requerido pelo conhecimento científico. Mesmo que o conhecimento de senso-comum funcione, ele se restringe a algumas situações, o que impede a sua universalização. Para que o conhecimento científico seja reconhecido como tal, não basta que ele seja comprovado em situações particulares. Ele precisa ser válido sob a forma de uma regra geral.
Exemplo: Sempre foi de domínio público a percepção da lei da gravidade, logo era um conhecimento de senso-comum o fato das maçãs caírem. Somente quando Isaac Newton descobriu o princípio da gravitação e o generalizou para todo o universo, a gravidade se tornou conhecimento científico.

- Não é passível de matematização. Não é possível aplicar modelos matemáticos estatísticos ao conhecimento de senso comum. No momento em que isto é feito, ele se torna conhecimento científico.
Exemplo: A sabedoria popular trabalha ao nível de afirmações do tipo “essa planta faz bem para tal ou qual sintoma”. Porém, até o momento em que não for isolado o princípio ativo da planta e feitas pesquisas de comprovação de eficácia da ação deste princípio sobre o corpo humano, tal conhecimento continuará a ser visto pela ciência como crendice, ou superstição.
Para que um remédio popular ganhe o status de conhecimento científico, ele deve passar por testes “duplo-cego” em que uma determinada amostragem de pacientes é dividida em dois grupos: uma recebe o remédio com o princípio ativo e a outra recebe um placebo (sem nenhum princípio ativo).
Porém, os pesquisadores que aplicam o remédio não sabem qual é o grupo que está recebendo a medicação real e muito menos os pacientes do grupo controle são avisados de que estão recebendo placebo. Através do tratamento estatístico dos dados da evolução dos sintomas dos pacientes, há a possibilidade de se chegar à comprovação da eficácia da substância ou ao seu descarte como medicação.

Ciência, conhecimento, não-ciência, pesquisa, investigação, matematização, estatística, método, comprovação científica.

2 comentários:

  1. Vou lhe dizer, Isaias, com abordagem informal, está muito bom. Mas só uma pequena observação: matematização não é parte do princípio que separa ciência da pseudociência, embora pareça. A capacidade de reproduzir os resultados e a existência de uma forma de refutação dos princípios -- ainda que a refutação seja impossível porque os fatos estão corretos -- é que definem o conhecimento científico de maneira mais própria.

    Além disso, a generalização também não é parte obrigatória dessa distinção. A relatividade de Einstein só se manifesta em condições bem particulares, mas ainda assim é ciência(teórica, sim; mas ciência)

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  2. Obrigado pelos adendos, que certamente abrilhantam o texto de cunho despretensioso. Tive ganas de escrever que absolutamente NADA diferencia a ciência da não ciência, a não ser um pequeno detalhe: a aceitação, mesmo que temporária segundo Khun, da teoria. Produziu-se muitas besteiras não-científicas ao longo da história da ciência que só anos mais tarde foram refutadas. Por outro lado, quanto conhecimento científico altamente fundamentado permaneceu ou morreu nas gavetas por falta de "credibilidade" dos seu autores? Mas por razões didáticas, apregoa-se as delimitações da ciência e reza-se que estejam certas.
    Quanto à matematização, tenho as minhas dúvidas porque o bebê da Relatividade nasceu no berço esplêndido de um denso modelo matemático, anos antes da sua comprovação, que se deu no eclipse de 1919 - porém, a beleza do edifício matemático Einsteiniano já cativara os membros da comunidade científica que se inclinavam decididamente a abandonar o conforto do universo Newtoniano.
    As condições empíricas bem particulares requeridas para as experimentações relativísticas, apesar de altamente particulares, são universais: onde quer que seja no universo ocorram as condições, se dará o fenômeno, diferentemente da mobilidade de requisitos necessários ao sucesso de uma sessão de dança de copos espírita ou de pajelança, ou mesmo da eficácia homeopática.

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