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26 de mai. de 2008

O que é ser inteligente?


A pergunta formulada tem a ver com percepção, pois alguém pode se “sentir” inteligente, sendo o maior mentecapto do mundo. Ilustro tal afirmação por um episódio do seriado televisivo “Eu a Patroa e as Crianças”. O filho do casal, o mais burro da família, recebe o resultado do seu teste de inteligência na escola, mas por um equívoco, o seu número foi trocado com o de outro colega. O resultado o colocava na categoria de gênio, acima dos 1.300 pontos, enquanto a média das pessoas era de 800 pontos. Durante o dia em que o filho conviveu com o falso resultado de inteligência, ele se “sentiu” gênio e agiu como tal.

Sua invejosa irmã, urdindo uma estratégia para desmascará-lo, deu para ele resolver as questões do seu complicado trabalho de psicologia, na esperança de que ele se estrepasse, provando assim que nada mudara no desempenho intelectual do irmão mentecapto. No final do episódio, esclarecido o real número do teste, que no caso dele ficou em 200 pontos, o filho voltou à rotina da sua burrice de cada dia. A parte pitoresca ficou por conta da estranheza da irmã devido ao “A” obtido no teste de psicologia, insolitamente resolvido por um burro que se acreditou gênio por um dia.

Outro episódio ilustrativo se passa no “remake” do filme “Bedazzled” de 1967, uma comédia baseada na história de Fausto. Um dos papéis que o personagem principal assume é o de ser supremamente inteligente. Uma vez encarnado num gênio ele se vê assombrado por miríades de corpos estelares em movimentos elípticos matematicamente descritos, corpúsculos de dupla natureza contínua e descontínua perfazendo rotas aleatórias, equações antes inacessíveis, agora tangíveis sob o esforço de um mínimo contrair de sobrolho. Cito este filme porque foi a imagem que mais me transmitiu a sensação de ser inteligente, do jorrar profícuo de imagens, proposições e inspirações... como se fora um receptáculo transbordante.

Com base nas ilustrações eu me pergunto: será que há base lógica capaz de sustentar a ontológica pergunta: o que é a Inteligência? Ou será que a inteligência é assunto exclusivamente percepcional, portanto reservável ao espaço movediço da inter-subjetividade?

Amiúde visitam este blog umas Toupeiras que certamente são dotadas desta coisa misteriosa e indecifrável, que sou levado a crer por aquilatar os espocares das suas produções intelectuais. Mas, na qualidade de jovens fervorosos cultuadores da cultura geek, eu poderia lançar suspeitas de que as toupeiras comungam da fervorosa e perigosa crença na IA? Acredito que não, pois intuo que os inteligentes rapazes visualizem também a poderosa barreira dos problemas não computáveis interpostos no caminho da Inteligência Artificial.

Tentar falar de inteligência significa operar ao nível dos conceitos e um deles necessariamente passa por um pouco de esmiuçamento do pano de fundo lógico subjacente à Inteligência Artificial. Ora, enquanto a IA não superar o obstáculo lógico intransponível das funções computáveis e não computáveis definidas pela Máquina de Alan Turing, não se pode falar de “inteligência” para máquinas que se limitam a resolver funções computáveis.

Não me interesso por funções computáveis, deixo-as para os computadores que as fazem milhões de vezes melhor do que eu, mas sim pelas não computáveis, elas sim me fazem sentir humano e... inteligente. Todavia, peço desculpas ao leitor por este post terminar abruptamente no melhor da história. É que a associação entre funções não computáveis, inteligência, IA, máquina de Turing, problema da paragem e o Teorema da Incompletude de Gödel, é muito assunto para pouco pano de manga, ou melhor para um post sem mais espaço.

Ciência, inteligência, máquina de Turing, bedazzled, inter-subjetividade

2 comentários:

  1. Hm, muito bem colocado...

    Sinceramente, acreditamos que "Inteligência Artifical", como inteligência é apenas uma abstração. Não sei se você sabe, mas em termos de capacidade, um processador dual core é tão poderoso quanto o cérebro de um anelídeo. Acho que isso coloca algumas coisas em perspectiva.

    Mas em termos da inteligência geral... acredito que inteligência é mais do que agregar conhecimento, é saber usá-lo, e principalmente saber gerar novas soluções e idéias a partir de dados existentes. Inteligência é, sobretudo, uma força de criação.

    Concepção minha. Não sou psicólogo, então desconsidere à vontade. ;)

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  2. É por aí que eu vou também... as toupeiras não me decepcionam. Uma tarefa simples que as máquinas não conseguem realizar (além é claro, da grande massa humana invalidada pelo sistema educacional) é interpretar um texto.
    Conceituando-se interpretar como captar a "idéia", forçosamente se fala num espaço de rupturas e imprevisões próprios da linguagem, então a atividade foge das verdades axiomáticas próprias do input do computador universal de Turing.

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