Há um consenso de que a filosofia como disciplina vanguardista do conhecimento acabou. A ditudura militar vigente durante 30 anos no Brasil praticou o homicídio desta disciplina, extirpando-a do ensino, assim como fez com as outras humanidades.
Na realidade a ditadura militar brasileira foi visionariamente antecipatória do fenômeno do tecnicismo que assolou a sociedade contemporânea. Os problemas que demandavam a antiga filosofia tais como as reflexões sobre o conhecimento, o ser, o universo, a alma, a mente e o sentido das coisas, se desintegraram na utilidade das coisas.
Se eu fosse instado a definir o processo desconstrutivo da filosofia impingido pela industrialização, diria numa palavra: coisificação. Assim, uma filosofia ontológica não tem mais espaço em meio ao culto à coisa, pois dentro da emergência do ter, não há mais tempo para a reflexão e o ser.
Porém, o saudosismo não trará de volta Aristóteles e o seu modo de vida peripatético, diante do leite derramado da defunta filosofia ontológica, há que se construir algum pensamento que expresse os impulsos niilistas do atual estado de coisas.
Estamos numa nova idade média, não mais dominada pela metafísica teológica e sim pelo utilitarismo. Assim urge a necessidade de uma Filosofia POP que dê conta das novas redes, que enxergue o conhecimento embutido nos utensílios. Para tanto, é preciso diagnosticar quais verdades impregnam a nossa Idade das Trevas Utilitarista:
- Deus substituído pela explicação científica.
- A capacidade argumentativa sucedida pela comunicação instantânea – Internet.
- A ação reflexionante substituída pelo poder da imagem que fala por mil palavras - TV, fotografia, cinema.
- O ambiente natural substituído por janelas bidimensionais de computadores – Cyber Cafés, Lan Houses, Jogos, RPG.
- A busca da felicidade foi desbancada pela idolatria ao dinheiro, o maior bem da vida.
- O fim último do homem foi encontrado, é o sucesso e a fama, como verdades do sentido da vida.
- O ser desbancado pelo ter, que é poder.
Em tempos de acabamento da filosofia, o primeiro Filósofo POP que deu conta desta guinada dos princípios para os fins, não foi um filósofo propriamente, mas sim um artista que descobriu o poder da seriação e a expressou através da arte. Andy Wharhol filosofou sobre a vocação do seu tempo na reprodução infinita de bens de consumo. Ele além de ter criado a Arte POP, disparou uma filosofia sem livros e sem idéias, uma filosofia essencialmente utilitária.
Sua frase profética se cumpriu totalmente “um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama”. As milhões de pessoas que se prendem aos espetáculos dos Reality Shows em cadeia nacional de TV são a conseqüência da coisificação do sentido da vida. Ter fama é ter tudo na vida e isto entendido como fim último da existência, é um sentimento essencialmente POP.
O primeiro Filósofo POP não teve postura crítica em relação ao desmoronamento dos velhos valores do século XIX. A SUA verdade também trafegava nas linhas de montagem e chegava ao final embrulhada num produto. Ele transformou o descartável em arte, foi superficial, mesquinho, chato e repetitivo. Ele não construiu nenhum edifício teórico sobre o mérito da contemporaneidade, ele não escreveu nenhum livro, ainda mais porque os livros estavam morrendo. As suas obras de arte se esboroam na corrosão dos materiais descartáveis fabricados no século XX, feitos para se jogar fora.
Então, este é o estado de perplexidade da Filosofia POP, o filosofar do momento, a captura fácil da imagem digital, a impressão em alta definição e o esgotamento. Ela nasceu no modo de vida POP e tem se entranhado nas mídias digitais. Ora, tais mídias são de natureza volátil e temporária. Os formatos são esquecidos e os dados perdidos constantemente. O disquete da década de 80 não é mais lido por nenhum computador atual. O que foi armazenado digitalmente há 30 anos, não pode ser recuperado, não tem validade num mundo sedento de novidades e descartador do passado.
A Filosofia POP vai se auto-deletando segundo a lógica da produção digital, ela não tem nenhum desejo de se perpetuar ao estilo da petrificação analógica. Os petabytes de dados produzidos globalmente por dia, são tentáculos da Filosofia POP sem amanhã, que se consome e se reproduz constantemente seguindo a lógica da replicabilidade industrial consumista, gerando apenas lixo descartável.
Filosofia, POP, Andy Warhol, niilismo, consumismo, mídia digital, sentido da vida, utilitarismo
Adorei esse texto! De fato, a filosofia hoje está totalmente desacreditada. O pior é que essa matéria é tão inescapável que precisamos usá-la para tecer qualquer pensamento.
ResponderExcluirNecessitamos da filosofia até para atacá-la: a crença de que não devemos especular sobre a natureza da realidade, e nos preocupar somente com os aspectos práticos das coisas, é, em si, uma filosofia – chamada de pragmatismo, ou utilitarismo.
Aqueles que afirmam que não precisamos da filosofia assumem uma posição autorrefutadora, pois as justificativas para isso sempre são filosóficas.
Da mesma forma, é risível que algumas pessoas afirmem que a filosofia não deve se meter nos campos da ciência empírica, sendo que a própria ciência está amparada numa filosofia – o empirismo, ou cientificismo. A crença de que os sentidos servem para fornecer conhecimento é uma postura filosófica. A crença de que a mente pode perceber a realidade pela análise lógica também é uma postura filosófica.
Rafael,
ResponderExcluirQuando você fala do empirismo e cientificismo subjacente ao fazer científico, certamente revela uma sólida formação filosófica, pois isto nem sequer é cogitado pelos próceres das ditas ciências "duras".
Inestimável comentário que complementa as lacunas deixadas no meu artigo.
eu vim a este saite para ver se aparecia alguma coisa sobre a filosofia da pop....
ResponderExcluirDaaaaaaaaaaaaa....daaaaaaaaaaaaaa
Eu queria saber mais da filosofia pop, aquela que está na moda, e se estas são consideradas filosofias de verdade ou não.
ResponderExcluirEntendi TUDO o que está nesse texto .. hm
mesmo assim, obrigado.