Ao comentar um artigo deste Blog sobre Nerds, meu fiel leitor Bruno Guedes fez alguns questionamentos no seu comentário, que exigem reflexões mais alongadas, extrapolantes à ligeireza de uma simples contestação na página de comentários.
Vejamos as palavras do Bruno:
“Não é à toa que tantos de nós abominam a inclusão digital. Mas afinal, seria prudente dar um carro a alguém que não sabe dirigir? De maneira semelhante, dar acesso à Internet a alguém que não sabe usá-la, é direito? Deveria haver cursos voltados para o assunto, porque a Internet para não-internautas não seria uma rede de comunicação, seria um sistema de IA (*) gigante que tentaria adivinhar o que o usuário está querendo.”
A inclusão digital é um assunto complexo por envolver simultaneamente as dimensões do hardware e software. É possível incluir digitalmente alguém simplesmente resolvendo o problema do acesso? Se fosse, então a inclusão digital seria um assunto exclusivamente de hardware, ou seja, bastaria fornecer o computador e o usuário estaria incluído.
Sob esta premissa, bastaria ao governo distribuir computadores numa espécie de programa Fome Zero informacional, para liquidar o déficit digital. Mas, se a questão toda pudesse ser reduzida ao nível de Hardware, a mesma solução poderia ser estendida ao analfabetismo: simplesmente distribuindo livros aos analfabetos, seria suficiente para erradicar o analfabetismo real e o funcional.
Assim como os analfabetos não se alfabetizam somente por terem um livro na mão, os excluídos digitais não se tornam internautas só por terem um computador em casa. Incluir alguém digitalmente, ou alfabeticamente envolve operações mais complicadas de apropriação de algo que foge ao mero ter ferramentas de conhecimento. A acepção do termo “software” aqui empregado significa treinamento da inteligência para a apropriação de algo. A aquisição de conhecimento sobre alguma coisa é o grande gargalo do ensino e a principal razão porque depois de décadas de Internet, a maioria dos usuários continua a entender nada de Internet.
Voltando às colocações do Bruno: é possível dar um carro a alguém que não sabe dirigir? Sim, tanto a formação de Internautas se baseia em dar computadores, como a falência do ensino se baseia em “dar” conteúdos aos alunos.
O Bruno acerta quando diz que a internet é um gigantesco sistema de IA tentando adivinhar o que o usuário está querendo. Os Nerds por trás da máquina tentam construir interfaces de acessos ao usuário, criando “facilidades”, atalhos facilitadores, etc, porém menos informando do que atingindo o usuário comum.
As impressões que recolhidas por aí, mesmo de usuários que usam há anos a Internet, seguem no mesmo diapasão:
- Não entendo nada de computador. Queixa mais freqüente repetida à exaustão por usuários com formação intelectual ocorrida na era analógica;
- Não entendo nada de Internet, repetem em coro Internautas novos e veteranos.
O problema da falta de acessibilidade aos sistemas informáticos acontece principalmente pela forma como os Webmasters vêem os Internautas. Eles têm a tendência de enxergar chifres em cabeça de cavalo, ou seja, superestimando a capacidade cognitiva dos usuários que acessam seus sites, sob o pretexto de que não é gratificante programar para idiotas.
Em meio à nebulosidade de uma Internet focada em Internautas com QI acima da média, os sites que conseguem romper a barreira semântica do entendimento, se tornam grandes sucessos de público. Assim, se um usuário médio consegue satisfazer de maneira razoável as três condições básicas: procurar, achar e entender, em um site que “adivinhou o que o usuário estava querendo”, torna-se um campeão de acessos, mesmo entre a imensa quantidade de novos usuários não-nerds que ingressam a cada ano na Internet.
(*) IA – Inteligência Artificial.
Inclusão digital, Internet, usuário comum, internauta, nerd, webamaster, inteligência
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