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31 de jul. de 2008

O macaco que quase virou gente.


Uma da questões mais fascinantes é tentar descobrir se um primata que fosse criado como um bebê humano poderia aprender a linguagem e chegar a inventar a linguagem, assim como os seres humanos fazem.

O pesquisador Herbert S. Terrace, para testar a consistência desta possibilidade, se propôs a iniciar uma pesquisa com um bebê de chimpanzé, que provasse o erro da postulação de Chomsky sobre a capacidade inata do ser humano de não apenas repetir os signos da linguagem, não só de criar novas combinações dos signos aprendidos, mas também criar novos signos a partir deles.

Em 1973 Terrace conseguiu o seu filhote chimpanzé numa reserva próxima, que batizou com o irônico nome de “Nim Chimp Sky”, numa alusão bem humorada ao nome do cientista Noam Chomsky, que havia proposto como exclusiva e inata ao homem a capacidade de dominar a linguagem.

A criação de Nim se deu dentro de uma pesquisa científica criado especialmente para provar que outro animal pode dominar a linguagem, desde que fosse fornecido para ele o meio adequado, ou seja, o ambiente de uma família humana normal. Assim, o símio foi tratado desde o início como um bebê humano. Usava fraldas e roupinhas, tinha a sua mamadeira. Posteriormente foi ensinado a comer à mesa usando talheres. Nim se tornou asseado e indicava com gestos convencionados quando desejava ir ao banheiro.

O aprendizado proposto estava relacionado com as situações cotidianas. Ele acabou conseguindo escolher peças do vestuário, por exemplo, uma camisa e a cor, e também nos assuntos de alimentação e higiene, aprendeu a pedir a xícara, escova de dentes, etc.

Os cientistas que trabalhavam neste “reality show animal” agiam como se Nim fosse uma criança normal, sempre cercado de gente que conversava com ele e entre si, usando a linguagem dos sinais. Na casa onde o chimpanzé morava, as condições iram ideais, os professores tomavam conta dele o tempo todo. E, evidentemente, tudo que acontecia na casa era filmado.

Ao final, Chomsky tinha razão.
A cabo de 4 anos, Nim dominava 125 sinais, mas continuva impulsivo como qualquer chimpanzé pequeno. Decididamente eles são bem menos inibidos do que os bebês humanos, já que é possível se enganar sobre o que um bebê está sentindo, ao passo que isto não ocorre com um voluntarioso chimpanzé.

Convencido de que Nim havia mostrado o quanto Chomsky não tinha razão, Terrace resolveu suspender bruscamente a pesquisa, devolvendo o macaco à reserva de onde o tinha tirado.
Tempos depois, quando Terrance estava pronto para redigir uma declaração solene sobre a aptidão dos macacos para a linguagem, sobreveio a constatação que pôs a perder seus anos de convicção.

Quando ele analisou friamente as filmagens, descobriu que as pessoas que interagiam com Nim, sempre tomavam a iniciativa e, inconscientemente, passavam a senha da resposta desejada por eles. Herbert S. Terrace conseguiu enxergar a realidade de que o chimpanzé esteve todo tempo a repetir o que os outros queriam que ele fizesse. Era simplesmente imitação, que não pode ser confundida com a invenção da linguagem.

Enfim, ao cabo de alguns anos e muito dinheiro investido na pesquisa, Herbert S. Terrace teve que dar o braço a torcer de que Noam Chomsky tinha razão...

Fonte: Entrevistas do Le Monde, Indivíduo.

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